Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

quarta-feira, maio 31, 2006

Pensamento do dia

Queiram, por favor, parar o mundo porque eu quero sair.
Obrigada.

terça-feira, maio 30, 2006

Umbiguismo brejeiro

Há um tipo de homens para os quais o mundo gira em torno da própria braguilha.

Vida saudável

Sete da tarde. 30 graus. Ténis calçados, roupa de ginástica, óculos escuros (look barbie-atleta). Desce-se até o jardim da Estrela. Começa a corrida.
Primeira volta ao jardim: tosse, muita tosse.
Segunda volta ao jardim: arrasto a minha pesada existência e invejo os velhos que, sentados, dão milho aos pombos.
Terceira volta ao jardim: não houve.
Alguns de nós não nasceram para ser pessoas saudáveis.
Hoje: doem-me músculos que não sabia que tinha.

segunda-feira, maio 29, 2006

Um calor de ananases II

Um calor de ananases...

"Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Pra dizer adeus"


Letra: Torquato Neto
Música: Edu Lobo

Há dois anos um amigo saiu, bateu a porta.
Agora, e todos os dias, cada um de nós (dos que ficaram) sente a falta dele, à sua maneira.

Rosa


Esta baiana tem voz de abraço. E não conseguiria desafinar, mesmo que quisesse.

Numa noite quente, em Sintra, o cantar sincero de Rosa passos.

sexta-feira, maio 26, 2006

Post Darjeeling

Alguns homens são como o café:
Chegam quentes, promissores e com aroma inebriante. Terminam num profundo amargo de boca.
Mesmo depois de nos termos apercebido que não nos sabe bem, mais por ritual do que por prazer, convencemo-nos de que não conseguimos acordar (para a vida) se renunciarmos a eles em absoluto.

Eu prefiro chá preto.

Eu não vou


Vamos pôr as coisas de maneira facilmente perceptível para homem médio / bom pai de família:
Se fizessem reféns entre a minha família, e a minha deslocação a este evento fosse o resgate exigido pelos malfeitores, conseguiria, certamente, encontrar, de entre a parentela afastada, uns quantos que não valeriam o transtorno da jornada e o frete da permanência.
E isto para nem começar a expôr a minha lista de reservas e perplexidades no que respeita às verdadeiras intenções humanitárias da família Medina sopostamente subjacentes a todo o conceito.

Miles Ahead

“I have revolutionized music about four or five times, and what are your reasons for being here?”

Miles Dewey Davis Jr. nasceu em 26 de Maio de 1926. Trompetista e compositor foi considerado o Picasso do Jazz (pela primeira vez, num caso destes, acho que a comparação é elogiosa para ambos). Rodeou-se dos melhores músicos, partilhou, com génio e generosidade o que sabia fazer melhor, formando e divulgando alguns dos que viriam a ser talentos maiores deste género musical.

Fez escola, e faria, hoje, 80 anos.

Miles Davis morreu em 28 de Setembro de 1991, mas continua a passar lá por casa todos os dias.

quinta-feira, maio 25, 2006

*Snif*

Alguns aguardam a primavera com o sorriso expectante dos que antecipam paixões. Eu espero-a com um pacote de Kleenex. Nesta altura (como noutras), sou mais de sintomas do que de sentimentos, e, comprovadamente, mais de alergias do que de alegrias.

Às vezes, a escolha é tanta, que nos deixamos ficar por coisa nenhuma.

Da colecção: Coisas estranhas que tive de explicar

A três simpáticos rapazes.
Porque é que algumas mulheres bonitas se apaixonam por homens muito feios.
Parece que o reconhecimento no outro do que intelectualmente nos move é tão passível de causar deslumbramento como um bater de pestanas bem emuldurado.
Depois disto, não me digam que somos nós, mulheres, as escravas dos conceitos estéticos estabelecidos.

quarta-feira, maio 24, 2006

Wake up call VI

Wake up call V

Royal Flush

Algumas conversas, tidas com três homens diferentes, um que conheço menos, outro que é artista, romântico, marialva incurável do mal de amor, e um terceiro, que tem a forma de amar mais absolutamente crua que conheci, levaram-me a concluir que, no amor, não somos apenas homens e mulheres, somos jogadores. E comportamo-nos como tal.
No que respeita às relações, dividimo-nos em subtipos facilmente identificáveis com a fauna que podemos encontrar numa incursão a um Casino:
(i) Os que entram, observam, deambulam, mas não jogam, não jogarão nunca por medo de vir a render-se ao vício ou de perder o pouco que têm. Estes que, nas relações, se conformam com os encantos dos gostares cómodos, sem grandes turbilhões de sentimentos, como um banho morno, onde não se está bem nem mal, vai-se estando.
(ii) Os que ali vão esporadicamente, não sem uma pontinha de auto-recriminação, olhando em volta, a medo, que levam o dinheiro para as apostas contado e nunca ultrapassam esse limite. São os que se contentam com uma relação simples, com um gostar consentido mas pouco sentido, mas que olham com admiração e ar de cobiça gulosa para os mais corajosos (e inconscientes que eles), aqueles que os primeiros repudiam e rotulam de aventureiros.
(iii) Finalmente, os viciados, que não conseguem obrigar-se a viver longe da adrenalina das apostas. Que jogam alto e se abandonam depositando em cima mesa tudo o que têm. emocionam-se com o ritual, desde a entrada na sala de jogo até que sentem a suavidade lasciva do toque no pano verde. Não gostam de banhos mornos, nem se deixam atrair por rendimentos garantidos, preferem enfrentar à partida o frio agressivo da água gelada a viver na antecipação de sentir-se arrefecer por dentro.
Não jogo outro jogo que não este, dos aventureiros, nem me parece, sequer, que conseguisse fazê-lo de outra forma, mais comedida, ou resguardada.
Amar alguém é um investimento cuja eventual rentabilidade será tanto maior quanto o capital investido e o risco suportado. No amor, enquanto jogo, aprecio os que, como eu, sao jogadores patológicos, que se rendem ao cheiro que emana das cartas manuseadas por um croupier habilidoso e se deixam hipnotizar pelos sons artificiosos de um salão que, a cada regresso, abre os braços para receber quem chega, e, a cada vez, tenta a sua sorte.
Jogo compulsiva e imprudentemente, mas afasto-me de mesas que descubro viciadas e não negoceio com agiotas. Não consinto que outros, que não eu, possam lucrar com meus vícios.

Wake up call IV

Wake up call III

Wake up call II

Wake up call

terça-feira, maio 23, 2006

Eu hoje acordei assim

©



segunda-feira, maio 22, 2006

Da colecção "Mais sexy que José Mourinho e o CDS de Pires de Lima" III

Da colecção "Mais sexy que José Mourinho e o CDS de Pires de Lima" II

Da colecção "Mais sexy que José Mourinho e o CDS de Pires de Lima"

A Maternidade

"-Se os homens soubessem como as mulheres grávidas ficam burras, nunca contratariam ninguém em período fértil."
Foi esta afirmação da Filipa (do alto da sua considerável barriga onde se aninha o António) que introduziu a conversa num almoço na Cinemateca. Três amigas, duas das quais grávidas de seis meses e meio.
Aquilo de que gosto nas minhas amigas é o facto de conseguirem evoluir do Estado de Graça, para um Estado com graça. A abordagem de fraldas, cremes e receituário variado é comedida e temperada com uma confortável dose de cinismo e humor negro. Nos últimos tempos alguns dos meus amigos mais próximos iniciaram os seus percursos de procriação. E eu tenho assitido (deve ser a isto que chamam procriação assistida).
Confesso que casa vez que me vejo envolvida numa mesa redonda sobre puericultura sou invadida por uma quase incontrolável vontade de vender(à laia de contrato sobre futuros) todos os meus óvulos. Aliás, ainda não recuperei de um jantar em que me vi sentada ao lado de uma senhora que descreveu de-ta-lha-da-men-te (ao segundo) as 13 horas do trabalho de parto e todas (mas mesmo TODAS) as sequelas físicas vividas antes, durante e depois do dito.
Naquele almoço, num dos primeiros dias de calor do ano, estava recostada na cadeira a rever mentalmente a lista de coisas que tinha para fazer, já com meio trajecto percorrido no caminho que vai da indiferença ao patamar inicial do tédio, quando, arrancando-me de um adormecimento cuja razão ela tão bem identificava, a Susana conduziu a minha mão à sua barriga e tive o primeiro contacto com o meu sobrinho Miguel (que se manifestava animadamente dentro da barriga da mãe).
Naquele momento, o tomate seco e o parmesão que estavam em falta lá em casa, a falta de soluções da direita portuguesa e a democratização selvagem do jazz tornaram-se preocupações voláteis. Era preciso preparar o mundo para a chegada dos meus dois novos sobrinhos e, pela primeira vez, isso começou a fazer sentido na minha cabeça.

Conclusão brilhante

Num taxi, a caminho de casa com o sol já bem nascido depois de uma noite de banda sonora duvidosa, 3 amigos dissertavam sobre o que seriam, na opinião de cada um, os factores determinantes para o sucesso de uma relação.
Ante o olhar de admiração interventiva de um taxista portador de uma taxa de alcoolémia notoriamente superior às soma das dos restantes e de um bigode que o denunciava benfiquista, surgiu a conclusão iluminada, o ditame incontestável (e incontestado):
"Cada um é para o que nasce, e o caracol é para a couve."
No amor, como na gripe, por mais elaboradas que sejam as teorias dos eruditos, no limite, deve sempre recorrer-se à sabedoria do povo.

sexta-feira, maio 19, 2006

A direita liberal libertada

Ela saíu para comprar a Atlântico e voltou 3 anos depois.

Cicuta em pontas (2)


Edgar Degas
La classe de danse
Metropolitan Museum of Art, NY

Cicuta em pontas


Edgar Degas
La danse
Musée de Denver

quinta-feira, maio 18, 2006

Não, não é cansaço...

"Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais."

Álvaro de Campos

Angústia de Primavera


Angústia(A Mãe do Artista).
Painted by David Alfaro Siqueiros.

quarta-feira, maio 17, 2006

Prazeres de Primavera IV

Sair do Snob e não sentir frio.

Prazeres de Primavera III

Passar pelo jardim da Estrela a caminho da vida.

Prazeres de Primavera II

Sair de casa às 10 da noite, como se fosse fim de tarde.

Prazeres de Primavera

Sentir os pés descalços no chão de madeira lá de casa. Sem tapetes.

terça-feira, maio 16, 2006

Two of my favorite things



Roubada daqui.

segunda-feira, maio 15, 2006

Estes dias

Percorri os teus caminhos.

O bolo envenenado

Domingo, antes do almoço (que para mim, seria uma salada no guincho), na pastelaria do meu bairro, esperava pelo chá preto e olhava, sem fixar, a vitrine dos bolos. No Canas, como na maioria das pastelarias com alguma dimensão e fabrico próprio, vende-se bolos de aniversário. Bolos que aguardam, pacientemente, atrás do vidro, que quem os encomendou os venha buscar enquanto se exibem orgulhosamente aos transeuntes.
Estava, como sempre, naquele momento pós-acordar (qual recém-nascido que dirige, pela primeira vez, os sentidos para o mundo) no qual tenho extrema dificuldade em fixar a minha atenção, seja em imagens, sons, sabores... Mas, naquele momento, naquela pastelaria de bairro, uma coisa me arrancou ao estado de semi-vigília, como uma paulada na nuca.
Na vitrine dos bolos de aniversário jazia - e vão já perceber por que razão é este o verbo que mais fielmente descreve os factos - um bolo de aniversário, daqueles cuja cobertura é a reprodução de uma fotografia. A fotografia era do falecido actor dos Morangos com açúcar, Francisco Adam e, no canto inferior esquerdo, de fugida, na T-shirt do pequeno, um sentido "Parabéns Marta!"...
Não me pronunciei, porque achei que não teria mais nada a acrescentar sobre o tanto que se disse, e, sobretudo, porque, confesso, o meu interesse no tema é bastante diminuto, sobre a "canibalização pelos media da morte do jovem actor". Mas, algumas semanas depois, confesso que esta homenagem póstuma - em doce de ovos com topping de morango e caramelo - me deixou atónita. E se eu (sonolenta e desinteressada) fiquei francamente chocada, imaginem a pobre da Marta, certamente adolescente, a quem uma qualquer alma iluminada resolveu oferecer, no dia em que se celebra a vida, um bolo de aniversário com cobertura rigor mortis.

Más notícias

A pastelaria da minha rua abriu uma gelataria.

Boas notícias

A pastelaria da minha rua abriu uma gelataria.

sexta-feira, maio 12, 2006

Sucedâneos

Sucedâneo - substância que pode substituir outra

Tenho muito dificuldade em lidar com este conceito. Sobretudo, com a sua aplicação prática. Acho, sempre achei, que os sucedâneos só satisfazem quando (i) não se sabe bem o que se quer (e portanto, não se trata, de facto, de um sucedâneo porque não vem substituir algo que realmente se queria, mas apenas colmatar uma lacuna para cujo preenchimento não havia objecto definido) ou (ii) não se gosta realmente do que se diz que quer e, portanto, em bom rigor, tanto nos faz ser aquele ou outro o produto a consumir desde que, afinal, não se morra com a experiência.
Digamos que, quem consome ou se contenta com sucedâneos sofre, na minha humilde opinião, da síndrome do "To settle for less", que, confesso, ao longo destes 26 anos, me tem causado bastante aflição.
Vamos a exemplos práticos: Quando se gosta mesmo de manteiga, a ideia do pão ou torradas barrados em margarina não pode senão causar profunda náusea. O mesmo se diga quando se gosta (como eu) de chá preto Darjeeling e nos aparecem com a saqueta do chá preto ranhoso de proveniência não identificada.
Se o sucedâneo é a substância que pode substituir outra, então, logicamente, cabe a quem consome decidir o que é sucedâneo de quê, o que, necessariamente terá uma evolução de crescimento no sentido oposto ao do grau de exigência.
Ora, quem encontra muitos sucedâneos, satisfaz-se com coisas relativamente diferentes das que inicialmente procurava (porque não as encontrou ou não quis dar-se ao trabalho de procurar). Em bom rigor, quem aceita os sucedâneos padece — ou virá a padecer— da síndrome do "To settle for less".
"To settle for less", ou, em português “contentar-se com o menos” é, quanto a mim, uma praga pior que o gafanhoto ou as formigas que atacam todo o Campo de Ourique ao primeiro sinal de primavera. É a velha teoria do “não tens média para entrar na faculdade de medicina vai para a de dentária(..)!” que nos tem oferecido, nas últimas décadas, muitos dentistas com verdadeiro horror à boca do próximo e que explica o pânico generalizado a esta classe que atravessa tantas gerações.
Não consigo, e se calhar por isso não sou tão feliz como acho que mereço, aderir a sucedâneos, nem contentar-me com o menos.
Se me apetece que a casa cheire a pinho, não compro Ajax de lavanda só porque o outro esgotou naquele supermercado. Percorro mais um quarteirão até encontrar o que realmente quero. Se me apetece ouvir a Elis Regina, é escusado tentarem impingir-me a Maria Rita, que é filha da outra senhora e tudo, e até nem canta mal, mas não é a mesma coisa.
O problema — porque aquilo que vos relatei antes não é um verdadeiro problema para quem não atinja o meu grau de neurose (há de haver quem — e Bem! — se esteja borrifando para o detergente de pinho) — dos dias que correm, é que, também nas relações pessoais, as pessoas consomem sucedâneos, contentam-se com o menos e, cada vez mais, barram a alma com margarina e limpam as memórias com detergente de lavanda.

Fábulas nos dias de hoje

Os lobos em pele de lobo são um desafio.
Os lobos em pele de cordeiro são uma-mais ou menos agradável- surpresa.
Os cordeiros em pele de cordeiro são apenas um demorado bocejo.

quinta-feira, maio 11, 2006

Por mais que se ame esta Lisboa, não fica bem num Post, nem seria verdade na vida, dizer que se olhou o mundo com ares de Vira e se ficou por aqui...

Hoje olhei o mundo com ares de Pasodoble e vontade de estar aqui

Hoje olhei o mundo com ares de Samba e vontade de estar aqui

Hoje olhei o mundo com ares de Tango e vontade de estar aqui

quarta-feira, maio 10, 2006

O Desassossego de quem escreve no Blog

Prefiro os maus aos fracos. A maldade, quando exercida com inteligência, tem uma inevitável aura de fascínio, a fraqueza mergulha-me, apenas, no mais absoluto tédio.

Blog do Desassossego (2)

" A decadência é a perda total da inconsciência; porque a insconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia."

Bernardo Soares

Blog do Desassossego

"Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho de dizer."

Bernardo Soares

terça-feira, maio 09, 2006

Sinceridades e algum mau humor matinal

Pergunta do porteiro do prédio, com ar de simpatia libidinosa, todos os dias, àquela hora:

- Olá, bom dia! Como se sente?

Finalmente, chega resposta que me parece adequada:

- Sinto todo o meu corpo deitado fora da realidade.

SOS (2)

António, querido, seja amoroso e ensine lá de-va-ga-ri-nho e com paciência como se põr música no Blog. Obtive informação fiel de que o menino seria a pessoa indicada para esta obra realmente hercúlea.
Obrigada.

Gosto mais dos que não me aceitam percebendo exactamente o que pretendo, do que dos que me dizem que sim só porque não têm a mínima ideia de onde quero chegar.

segunda-feira, maio 08, 2006

Coisas que, nesta idade, eu já devia ter aprendido (2)

Quando, num jantar de reencontro de 5 amigos, antes de começar a comer as entradas, se pediu já a segunda garrafa de vinho, não se pode esperar ingenuamente o desenrolar de uma noite inócua.

Coisas que, nesta idade, eu já devia ter aprendido.

Não se entra num avião de ressaca.
Aliás, reformulo: não nos devemos colocar em posição de vir a ter ressaca, quando sabemos que, no dia segunte, vamos necessariamente entrar num avião.

Mel com Cicuta recomenda


in, Curso de pós-graduação em culinária comparada.

Já estou a tirar notas.

Lacunas na aprendizagem emocional

Acho que não sei ser gostada.

Ontem, em horário social (Cartas do leitor)

Em resposta aos comentários do Paulo, do Goldmundo e do Pedro Mexia, algumas clarificações e outros acrescentos:

Nota prévia:

(i) Paulo: porque não acredito no amor incondicional (a nossa velha e titânica luta ideológica), isso não significa que não acredite no amor em si. Concordo que o casamento não será um preenchimento de lacunas. Aliás, não conheço maior prova de amor do que abdicar de tentar mudar o outro, moldá-lo à forma dos nossos desejos e inquietações. A tentativa, quase inconsciente, de transformar o objecto amado num outro que reflicta todas as características dos objectos que sempre desejámos faz parte da natureza humana (confesso, mesmo, que me parece ainda mais evidente como marca do carácter feminino). Por isso acho que amar é aceitar o outro, sem mais. Não falo de curvar-se cegamente às suas vontades, mas querer viver com todas as características daquele “eu” de outra pessoa com quem equacionamos querer um “nós”. Os divórcios são, em muitos casos, inevitáveis porque com o passar dos anos nos apercebemos que os defeitos do outro, ao invés de se atenuarem pela nossa influência e incisão, vieram a agravar-se pelo sedimentar do seu carácter. Enquanto se casar sem aceitar o outro, mas na vã esperança de mudar nele aquilo que nos incomoda, como quando se compra uma casa velha para fazer obras até transformá-la num espaço confortável e que seja a imagem exterior de nós, não vejo grande futuro para uma instituição, na qual quero, cada vez mais, acreditar.
(ii) Goldmundo: amor e casamento não são, certamente, sinónimos e insistir na coincidência seria, no mínimo, o mais infrutífero exercício de autismo de que há memória. Contudo, não concebo que se decida casar sem ter certeza que se ama. Pode não se ter certeza de que se vai amar sempre, pode até, como diz o Paulo, ter-se o cuidado de querer prever como vai ser depois do fim. Mas, naquele momento, e quando se decide, necessariamente, dar um passo do “eu” em direcção ao “nós” temos de levar connosco a certeza de que o "nós" faz sentido, que é mais do que um estudo sociológico ou um proveitoso subterfúgio de planeamento fiscal (apesar de não haver nada mais fiscalmente ineficaz do que a pessoa singular, solteira, sem dependentes a seu cargo, que exerça uma profissão liberal, eu não desisto nem abdico do princípio de que, pelo menos na formulação da vontade primeira, amor e casamento são indissociáveis).
(iii) Caro Pedro Mexia, não podia discordar mais da sua teoria da “"dignified spinsters" do catano”. Os homens solteiros não são nem ficam uns coitadinhos. E nem tenho de recorrer ao lugar comum (que deve conhecer tão bem como eu) sobre como um homem de 35 anos é um Playboy, solteiro por opção (mesmo que ninguém se aproxime dele nem para perguntar as horas) e uma mulher nas mesmas condições é um ser vazio de felicidade, ferido da mais absoluta incompetência emocional.
Mais do que uma questão de género, acho que a questão dos solteiros é um problema de objectivos e grau de exigência.
O que me irritou naquela conversa de café, para além daquela convicção paternalista e redutora de que eu precisaria de alguém para me proteger no caminho para casa (que era a poucos metros dali) é perceber que milhares de anos depois, para alguns seres iluminados, continuamos na divisão de tarefas entre limpar a caverna e caçar elefantes — e para este, em particular, estava muito claro a quem cabia fazer o quê. Não me chocam os homens conservadores, mas não suporto os que têm horizontes limitados, na sua visão do mundo e na visão que têm do mundo dos outros.
Não ter casado ou ter escolhido não casar, não implica, nem pode ser encarado como a evidência de uma qualquer lacuna nas faculdades de quem optou. A exigência na escolha, a ausência da procura cega, o estabelecer de outras prioridades é, para homens e mulheres, apenas outro caminho, que não tem, necessariamente, que ser percorrido na mais absoluta solidão e miséria emocional.

sexta-feira, maio 05, 2006

Ontem, em horário social

Numa mesa de um conhecido café de Campo de Ourique, depois do jantar, com amigos e outros amigos desses amigos (que eu tinha acabado de conhecer):
Ele(um perfeito estranho): -Mas vive sozinha? Não sente falta de ter companhia para se distrair depois do trabalho, alguém com quem conversar? E como sobrevive às tarefas domésticas?E não tem medo de vir para casa sozinha à noite?
Respondi educadamente, e segui para casa, algum tempo depois, ainda atordoada pela avalanche de perguntas idiotas. Entrei em casa, chamei companhia. Primeiro o João Gilberto, depois o Jobim, mais tarde o Miles Davis e o Coltrane. No sofá, comigo, o Céline e a sua "Viagem ao fim da noite". Na televisão, a Sic Notícias, em modo mute, só para fazer companhia.
Cada vez me convenço mais que há um certo - e determinado (momento Gato Fedorento do post)- tipo de homem que casa porque: (i) não sabe ou não gosta de ler, (ii) não pode pagar uma boa aparelhagem ou um ecran de plasma e (iii) não é capaz de contratar uma empregada doméstica ou um guarda nocturno.

SOS

Alguma das simpáticas almas cristãs (ou não) que frequenta este blog saberá explicar-me ( com desenhos, uma elevada dose de paciência e espírito abnegatório) como se põe música no blog?
A gerência agradece.

quinta-feira, maio 04, 2006

(Des) Gostos

Sou mais da prosa amargurada do que da poesia (re) sentida.

Defeitos imperdoáveis num homem

Mais do que o excesso de ousadia, a falta de coragem;
Mais do que a infidelidade, a incapacidade de ser leal;
Mais do que o machismo, a ausência de uma educação conservadora;
Mais do que a falta de demonstração de afecto, a incapacidade de ser racional;
Mais do que a teimosia, a falta de poder de afirmação;
Mais do que o esquecimento das datas importantes, o absoluto apego às coisas demasiado pequenas;
Mais do que a falta de romantismo, a ausência de espírito prático;
Mais do que ser impositivo, a falta de vontade de formar e emitir opinião;
Mais do que a altivez, a total pobreza de espírito;
Mais do que a antipatia na relação social, a alienação da vontade em nome da aceitação e conformidade colectivas.

Umas gotas de Cicuta no Chá

"Seja como for, a ordem pública é feita de muitas injustiças. Se a autoridade conseguisse capturar os criminosos sem importunar os justos, não viveríamos num Estado de Direito democrático, mas num Estado de Direito matemático."

Clara, correcta, completa e verdadeira a informação. Inteligente, mordaz e corajosa a opinião. Para ler aqui. Nem eu teria conseguido transmitir de forma tão fiel aquilo que eu penso sobre este assunto.

Post Coronel Tapioca (2)



Acampar? Concerteza, se me disponibilizarem uma simpática tenda dentro do Four Seasons mais próximo...

Produtividade comprometida

Deixar os óculos em casa num dia em que é suposto analisar-se contratos de seguro.

Orangettes



quarta-feira, maio 03, 2006

Máxima que não se aplica a tudo, muito menos ao carácter

"Quem dá o que tem a mais não é obrigado".

Coisas que eu até diria se tivesse a mínima certeza que irias perceber

És um pedaço inútil de criação.

Não quero bem, nem mal, pura e simplesmente deixei de querer.

Para ler numa tarde


Um interessante escritor discorre sobre um extraordinário instrumento.

Suplemento diário de Cicuta

Aqui.

terça-feira, maio 02, 2006

Post Coronel Tapioca

Sair do escritório, passar pelo Take Away do restaurante Japonês Assuka, em São Sebastião da Pedreira, continuar a subir a rua até a Gulbenkian, entrar, percorrer o jardim até encontrar a semi-sombra perfeita, controlar os pauzinhos, o molho de soja e a roupinha de escritório. Assim até se sobrevive com alguma dignidade ao duro regresso à vida real.

Post Marlboro Lights

Aprendi que nunca se cura um vício, aprende-se a viver na privação do prazer que ele proporciona.

O primeiro por do sol desta época balnear


No Guincho, que sabe sempre a voltar a casa.

Nó na garganta

The Kings of Convenience.

Difícilmente superável na categoria de melhor concerto de 2006.