A cada reencontro ela tinha uma nova desilusão.
Acabava, invariavelmente, a olhar o mar e repensar todos os porquês. Construia esquemas mentais que justificavam as atitudes medíocres dele e racionalizavam as suas cobardias. De cada desilusão e dor profunda nascia uma teoria mais sólida e elaborada, todas o desculpavam, por uma ou outra razão.
Era a natureza dele. Ele dizia, e ela acreditava. Porque queria desesperadamente acreditar. tinha de haver uma justificação racional para continuar à espera.
Foi formatada para não acreditar em chavões nem clichés. Para desprezar as mulheres que se deixavam agredir e manobrar. Vive de acreditar que não precisa senão de si para ser feliz, e que a sua competência e capacidade lhe bastam, como armas para enfrentar o mundo.
O grande mal das mulheres ardilosas é que conseguem enganar até a si mesmas, melhor que os outros conseguiriam. Ele enganou-a muitas vezes, mas ela ajudou em todas elas. Era contra si que deveria ter lutado.
Em todos os outros homens com quem se cruzou foi encontrando defeitos, que apontou e sentenciou... mortalmente. Nenhum certamente tão grave comos os que ele tinha.
Por ele permitiu-se atropelar algumas das suas convicções mais fortes. Perdoou-lhe maldades que recusou sequer assumir que existiam, mesmo quando essas maldades a olhavam nos olhos com sorriso trocista.
Durante noites a fio chorou até adormecer, na maior parte das vezes, de raiva, dele e de si mesma.
Mas nunca se foi embora sem antes acabar calmamente o seu Wisky... com muito gelo. A única coisa que ele lhe dava sem exigir que, em troca, ela abdicasse de ser quem é.
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