Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

quarta-feira, julho 26, 2006

Fundo de investimento mobiliário para 2007

Concorrência (des?)leal

Será que a publicidade negativa enganosa, quando feita pelo titular do bem jurídico tutelável é à mesma ilícita?
E quando a descrição corresponde a uma verdade que o consumidor não consegue ver, ou vendo, se recusa a assumir como certa, será à mesma enganosa?
E se o produtor desconhece, ele mesmo, os vícios do produto, mas ainda assim, por cautela, alerta para a possibilidade ou quase certeza da sua existência?
Entre consumidores voluntariamente iludidos e vendedores autolesivos, quem assegura o regular funcionamento do mercado?
Onde está a mão invisível quando precisamos dela para nos dar uma palmadinha no ombro?

O querer mostrar não é o bem-querer.

sexta-feira, julho 21, 2006

Era mais ou menos isto...

quinta-feira, julho 20, 2006

Mel com cicuta viaja à pendura*


"Quem me ama tem de me adivinhar... Não pode ficar à espera de ordens!"

in 'Quaresma', de José Álvaro Morais

*Roubado daqui.

Um problema

A interpretação autêntica em matéria de sentimentos.

Uma pena

A interpretação restritiva em matéria de sentimentos.

Um perigo

A interpretação extensiva em matéria de sentimentos.

Um equívoco

A interpretação a contrario em matéria de sentimentos.

Mel com cicuta - Cartas do leitor

A gerência expressa o seu profundo agradecimento pelo trabalho de Fact Checking levado a cabo por alguns leitores mais zelosos.
A correcção do lapso já efectuada.

quarta-feira, julho 19, 2006

Um desafio

Combattre le mauvais sans devenir méchant.

terça-feira, julho 18, 2006

Um dia vou construir um castelo muito alto...

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Escrito que afinal não é do Fernando Pessoa (mas não interessa porque gostamos na mesma), recebido, por e-mail, de alguém que me adivinha.

A ira.
O desalento.
As olheiras.
O milagre da maquilhagem pela Mac e um novo dia.Ou não.
As mulheres modernas não resolvem problemas. Fazem operações de cosmética.

Moral da história - zoologia

Não se pode assumir que se quer ter um tigre adulto por animal de estimação e depois esperar ter alguém em cuja barriga fazer festas quando se chega a casa.

A história repete-se desde o início dos tempos.
Uma princesa, fechada por maldição no alto de uma torre protegida por um temível dragão.
Os cavaleiros que a querem resgatar, sem a terem sequer olhado, no desconhecimento de uma fealdade que nem ela sabe que tem.
Ela aguarda, paciente e triste que a venham buscar, e assiste, a cada dia, ao falhanço dos que tentam, em vão, aniquilar a primitiva besta. Fatalidade, ao cair de cada noite, desce da torre e alimenta o dragão que é, afinal, a sua única companhia.E espera.
História contada por M, num dia de trevas.

segunda-feira, julho 17, 2006

Fragilidade - teorias subjectivistas

Fragilidade - teorias objectivistas

(Um bocadinho menos de) 100 anos de solidão

É uma casa vazia de gente com muita mobília, feita de silêncios que são os ruídos dos outros. É um sótão com tralha que se trouxe das outras vidas, onde entramos, a espaços, pé ante pé, antecipando nervosamente as sombras que a solidez das formas projecta em contra-luz. É a banda sonora que escolhemos para cada momento, em detrimento da voz impositiva e pesada dos outros. É o eco de um sino de igreja que chama os fiéis a celebrações que não as nossas. É o chiar, a cada dez minutos, de um velho comboio nos carris de uma viagem que, desta vez, não seremos nós a fazer. É o ruído da festa do vizinho de cima, de idade indefinida, que celebra uma alegria que desconhecemos e não queremos partilhar. É um "não" que se disse, um "sim" que foi insuficiente, inábil, imperceptível. É a serenidade de uma porta fechada, de uma janela com estores corridos, de uma luz de intensidade reduzida. São armários com prateleiras e gavetas cheias. É chá para um. É, além de tudo isto, bater a porta do lado de fora para rumar à partilha do que se conseguir e quiser. E voltar em paz.

sexta-feira, julho 14, 2006

Idiossincracias de Verão

36 graus e chá de menta bem quente.

Podia ter acontecido.
Tinha de acontecer.
Aconteceu antes. Mais tarde. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu mas não contigo.

Wislawa Szymborska, in 'Paisagem com grão de areia'

quinta-feira, julho 13, 2006

Retrato de uma princesa desconhecida

Porque, ultimamente, aqui e ali, se tem discutido a princesa que há dentro de cada mulher, lembrei-me de um poema de Sophia que ele, uma vez, por maldade, me leu.

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andresen

Diagnóstico: Tristeza física.

O drama cervical

Ao fim da noite, uma conversa telefónica sobre o verdadeiro sentido da vida e das relações. Ou uma negociação contratual. Vai dar ao mesmo.O escadote, não falsamente seguro. Um degrau que nunca existiu, ou que esteve sempre ali e desapareceu naquele segundo. O desamparo da queda. A solidão da ascensão lenta e dolorosa. Podia ser só a descrição de um dia de pouca sorte. Ou de uma vida inteira.

terça-feira, julho 11, 2006

Das arribadas forçadas - Código Comercial (ou não)

"Artigo 654º (Causas de arribada forçada)
São justas causas de arribada forçada:
1º A falta de víveres, aguada ou combustível;
2º O temor fundado de inimigos;
3º Qualquer acidente que inabilite o navio de continuar a navegação."

Igualdade ou nem por isso

Alguns amigos, mais sensíveis que o comum dos machos, insistem em dizer-me que percebem o TPM. Muitos descrevem até, com algum orgulho de ex-combatente, estados de alma similares que dizem experimentar. Tretas. É como imposição de quotas nas listas eleitorais. Não faz sentido. Não tem nada a ver. É completamente ao lado. Mas divirto-me a imaginar como seria se, de facto, acontecesse.

Lisboa amanheceu mais ou menos como eu: à espera da trovoada.

sexta-feira, julho 07, 2006

De um telefonema de ontem à noite

-Vais pôr o Código Civil inteiro no teu blogue?

Duas boas razões para estar pela Itália


quarta-feira, julho 05, 2006

a (dis)simulação e a reserva

Quando fui buscar o Código Civil para começar este post, cujo esboço foi ontem escrevinhado no moleskine (com duas pedras de gelo), estava convencida que ia escrever sobre a simulação. Porque além da adequação formal que erradamente lhe reconhecia à situação de facto que o originou, sempre dava para fazer umas piadas giras (os verdadeiros clássicos, que não saem de moda) sobre homens e mulheres.
Ora, a simulação, diz-nos o artigo 240º do C.C., ocorre "se, por acordo entre declarante e declaratário, e no intuito de enganar terceiro, houver divergência entre a declaração negocial e a vontade real do declarante". Está-se mesmo a ver que não é nada disto. Não há terceiro nenhum e, do que aqui se trata, é de enganar o outro.
Quatro artigos adiante, encontro o conceito jurídico adequado: Reserva mental. Segundo o artigo 244º "há reserva mental, sempre que é emitida uma declaração contrária à vontade real com intuito de enganar o declaratário”. Adicionalmente, no número 2 do mesmo artigo "a reserva mental não prejudica a validade da declaração, excepto se for conhecida do declaratário; neste caso, a reserva tem os efeitos da simulação”.
Muito bem. Significa isto que, quando alguém emite uma declaração não coincidente com o que realmente lhe vai na alma (assumindo que não a tenha vendido ainda) para enganar o próximo (que ignora a falsidade dessa mesma declaração) está— por cominação legal — a emitir uma declaração válida?
Significa isto que de todas a vezes em que fui enganada (e assumindo que desconhecia a inverdade das declarações) o declarante estava à mesma vinculado às declarações proferidas como se estas fossem verdadeiras? Houve formação do negócio, portanto? E posso recorrer à execução específica, mesmo que depois —piadinha feminina maldosa— acabe tudo em simulação?
Eu sei que é um bocadinho insuportável esta mania de reconduzir relações emocionais a institutos jurídicos, mas não podem negar que se produzem alguns efeitos de raro interesse.
Veja-se, por exemplo, a intrigante corrente doutrinária que podia formar-se a partir daqui — digna de acolher apoios das mais variadas escolas de pensamento — com a extrapolação desta teoria juscivilista para uma juspenalista que legitimasse, nestes casos, a actuação ao abrigo do número 1 do artigo 134º do Código Penal Português ( "quem matar outra pessoa determinado por pedido sério, instante e expresso que ela lhe tenha feito (…).”).
Nestes casos, de declarações aparentemente inequívocas e inquestionáveis, juradas em cima de uma qualquer bíblia imaginada, e tendo por alicerce honras de papel de arroz, estão, parece-me, preenchidos os elementos que excluem a ilicitude do tipo criminal do homicídio a pedido da vítima. Há quem esteja, de facto, a pedi-las.

Ontem havia uma fuga de gás no nosso sítio do costume. Logo à entrada, e ainda a caminho daquela mesa do canto, éramos atingidos por uma verdadeira nuvem de alheamento. Sentámo-nos à mesma. Na mesa ao lado, os convivas de todos os outros dias. Já em conversa corrida, como se da sala comum se tratasse (faz-me sempre lembrar os clubes de empresários nos filmes ingleses), percebemos todos que o cheiro a gás se agravara e começámos as reclamações ao anfitrião ainda mal disposto pela vitória da Itália alguns minutos antes. Entre a dança do armário, das cadeiras e das bilhas de gás trocadas, os presentes, que, noutras circunstâncias e lugares, teriam escolhido sair ou mudar de sítio, preferiram pedir mais bebidas enquanto discutiam os epitáfios que, depois daquela noite de gaseamento, caberiam em sorte a cada um. Pela primeira noite, em muitos anos, o serão foi de porta aberta.

Hoje 'tamos apelando prá todo mundo lá em cima né?

terça-feira, julho 04, 2006

"Entempos"

-Estou...?
-Olá. sou eu.
-Quem?
-Eu. Estás bem?
-Estou.
-Não estás nada. Estás triste...
-silêncio
-Estás a chorar?
-Não. Estou só cansada.
-Eu conheço-te. Quando estás cansada dormes. Ou resmungas. Não choras.
-Posso ter mudado...
-Tu não mudarias. Nunca. Nem que a tua vida dependesse disso.
-Está bem. Estou triste.
-Infeliz?
-Não. Só triste.
-Porquê?
-Foi só um dia mau.
-Os dias maus irritam-te. Não te entristecem.Vais contar-me o que se passa?
-Está bem. Então não estou triste. Estou irritada.
-Quando estás irritada não choras. Vais contar-me o que se passa?
-Não.
-Já não confias em mim?
-Nunca confiei. eu só abdicava disso.
-Tens mesmo de ser cruel?
-Isso não é verdade.
-Odeio quando usas essa expressão. As coisas não deixam de ser verdade só porque não são aquilo que queres delas, porque não correspondem ao reflexo da tua vontade.
-Mmm... Andaste a ler o quê?
-Não sejas snob.
-Porque é que ligaste?
-Para saber de ti. Mas já vi que não me vais dizer nada.
-silêncio
-O que estás a ouvir?
-Coltrane e Davis.
-Não admira que estejas neurótica. Passas o dia a ouvir tipos que morreram ou estão heroinómanos.
-Vai passear.
-Estás a chorar?
-silêncio
-Desculpa.
-Porquê?
-Por tudo. Por ter ligado hoje. Por não ter ligado das outras vezes. E ainda por ter ligado noutras em que não devia.
-Isso não tem desculpa possível. Mas não importa. Tu não precisas da redenção para viver.
-Lá vens tu com essas tretas. Estou a tentar fazer as pazes.
-Nós estamos em paz. Se me deixares eu estou em paz.
-Desisto. Estás ácida demais.
-Já desisitiste há muito tempo. E eu sempre fui assim.Um beijo.
-Não vens mesmo?
-Desta vez não.
-Um beijo.

segunda-feira, julho 03, 2006

Porque a vida tem destas (e de outras) coisas (3)

Artigo 211º do Código Civil - Coisas Futuras
São coisas futuras as que não estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao tempo da declaração negocial.

Porque a vida tem destas (e de outras) coisas (2)

Artigo 210º do Código Civil - Coisas Acessórias
1-São coisas acessórias, ou pertenças, as coisas móveis que, não constituindo partes integrantes, estão afectadas por forma duradoura ao serviço ou ornamento de uma outra.
2-Os negócios jurídicos que têm por objecto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as coisas acessórias.

Porque a vida tem destas (e de outras) coisas (1)

Artigo 208º do Código Civil
São coisas consumíveis as coisas cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua alienação.

Podemos ter muitos caminhos, mas nunca mais do que uma vontade.

Esta manhã, na voz de Bethania

""Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali..."

Excerto de Cântico Negro, de José Régio

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