Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

segunda-feira, setembro 17, 2007

O Mel mudou (-se)

Este blogue mudou de endereço. A bem da verdade, a gerência resolveu mudar-se a quem lhe acenou com a rápida e eficaz solução dos problemas técnicos que, a espaços, têm deflagrado nesta casa.
A partir de agora, Mel, Cicuta, Sapatos e You tubes de música correcta, aqui.
E ai dos senhores do Sapo que não nos tratem principescamente.

quarta-feira, setembro 12, 2007

"(...) O aparecimento da vulgaridade costuma ser útil muitas vezes na vida: ela alivia as cordas demasiado tensas, atenua os sentimentos de presunção ou de falta de respeito próprio, lembrando-lhes o seu parentesco com eles.(...)"

Ivan Turguéniev, Pais e Filhos

Caçar Elefantes

Alguma das almas esclarecidas e caridosas que frequenta esta casa saberá explicar-me, muito devagarinho e como se eu tivesse 5 anos de idade, porque é que deixei de conseguir publicar you-tubes e o que é posso voltar a fazê-lo?
Respostas à caixa de e-mail.
A gerência agradece.

terça-feira, setembro 11, 2007

Modelos familiares alternativos (a Tv cabo)

[Ela] – Boa tarde, estou a falar de (…) sou o cliente número(…) e tenho um processo de reparação em curso. Vieram cá já 3 equipas técnicas vossas, nos passados dias 22, 23 e 24 de Agosto e o problema persiste.
[o call center] – Muito bem. E pode dizer-nos em que consiste?
[Ela] – (resposta, extensa, cheia de termos técnicos relativos ao universo da televisão por cabo que nem nunca sonhara saber utilizar).
[o call center] – Então vamos agendar uma nova visita, deve ser suficiente trocar a power box.
[Ela] – mas já vieram cá 3 vezes, e já trocaram a power box em duas deles, depois trocaram toda a instalação interna (fios, tomadas e fichas) e, finalmente, substituíram a ligação externa na caixa que fica de fora do prédio.
[o call center] - Então vamos agendar uma nova visita, para que o nosso técnico perceba o novo procedimento a desenvolver
[Ela] – Ouça, eu já estive em casa 3 tardes (*rosna*), o vosso técnico já fez tudo o que podia ser feito dentro de casa (*espuma*), o problema, segundo indicações que os vossos próprios serviços me deram, é externo (*suspiro*).
[o call center]- Então vamos agendar uma nova visita, com a equipa de exteriores.
[Ela] – Se é uma equipa de exteriores não tem de agendar visita nenhuma, certo? tratem do que têm a tratar e depois informem-me para eu poder confirmar se houve melhoria no serviço (*pragueja*).

3 dias, 4 visitas, 28 telefonemas e 3 xanax depois, o problema estava já resolvido sem que ninguém tenha conseguido perceber bem como.

[o call center] – Boa tarde, Dona Laura (*arrepio profundo e esgar de irritação*), fala Miguel, da Tv cabo (*já é a quinta vez que falamos em 2 dias, aparentemente somos chegados*), é só para confirmar a informação que nos foi dada pelo seu marido.
[Ela] – Quem?
[o call center] – O senhor que nos atendeu e informou que os problemas estavam resolvidos, a senhora não foi avisada?
[Ela] - Mas eu não …
[o call center] – Fomos atendidos por um senhor que se identificou como vivendo nesta morada e confirmou a resolução do problema. Aliás, o senhor disse mesmo que tinha tido origem num curto circuito causado por um pequeno acidente doméstico causado com um brinquedo de um dos vossos filhos.
[Ela] – Filhos? Mas…(?)
[o call center] - Er…não se zangue, ele se calhar não lhe contou para não a maçar com as crianças.
[Ela] – Mas…
[o call center] – Pelo menos tem o assunto resolvido!
[Ela] – Pois (*exausta, decide desistir de remar contra a maré*).
[o call center] – Então boa tarde e disponha sempre.
[Ela] - boa tarde…

segunda-feira, setembro 10, 2007



Não que isto interesse, mas a minha última semana de férias foi miserável. Regressada de Londres — sem antevisão possível para a retoma financeira depois do rombo que a Libra causou — uns simpáticos vírus resolveram instalar-se e atirar-me para 4 dias de febre, sofá, programas televisivos para reformados e a quase vã tentativa de avançar na pilha de livros. Os dias, lá fora, gloriosos e coloniais. E a enferma delirante e mal-humorada chorava saudosa do Inverno, época muito mais adequada a qualquer tipo de maleitas. Quem pode evitar esboçar um sorriso amparado ante a ideia de buscar no edredão de penas e no chá a ferver o conforto dos dias engripados quando a chuva e o vento fustigam os transeuntes a quem acenamos mentalmente, não sem alguma ironia sobranceira, ainda que no auge da sucessão de espirros?Desta vez nenhum desses confortos infantis como a justificada permanência em casa em dia de trabalho ou a temperatura glaciar lá fora. Desta vez a janela mostrava trocista um céu azul envaidecido, gentes com roupas frescas e uma webcam num site da especialidade exibia despudoradamente a praia do Guincho sem vento. Desta vez o Verão de Agosto durou 4 dias. Os mesmos que a bula do medicamento prescrevia para a recuperação.

O Direito em forma de gente

E como as pessoas, às vezes, se parecem com os ramos de direito: as muito interessantes (porque complexas) mas quase impraticáveis numa base diária, as relativamente simples mas enfadonhas, as obscuras — quase inexpugnáveis— só acessíveis a praticantes experimentados e ardilosos, aquelas de quem se gosta muito por motivos lúdicos mas com quem não se quer mais do que uma relação pontual e difusa e, finalmente, as que escolhemos para todos os dias com tanto de entusiasmantes como de rotineiras, que nos estimulam ao mesmo tempo que nos exasperam entre a novidade e o enfado, que nos plantam um sorriso vitorioso mas não deixam (nunca) de nos ameaçar com antevisão da derrota nos pequenos percalços da convivência quotidiana.

terça-feira, setembro 04, 2007

Maquiavéis de trazer por casa

Nada contra aqueles que instrumentalizam coisas ou pessoas visando determinado objectivo. Afinal, a obstinação e a capacidade para planear, eficazmente, a médio ou longo prazo, são indícios claros de destreza de espírito e vontade férrea. Todavia, aquilo que distingue um diplomata de um bárbaro a quem se tenha dado uns cadernos militares é o facto de, no primeiro, o pudor actuar sempre sobre a estratégia (dissolvendo-a e mitigando os seus efeitos e consequências aos olhos mais sensíveis). O mundo admira os destemidos ou bravateiros por pouco mais de 15 minutos mas é capaz de respeitar (com temor distanciado) os ardilosos durante uma vida inteira.


Realidade? só a que não puder ser evitada com uma generosa dose de analgésicos, por favor.