Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Chinese walls




terça-feira, janeiro 30, 2007

Desportos de Inverno

A ronda da noite, da Agustina, a poucas páginas de ser devolvida à estante; As ligações perigosas, de Laclos, que esperam há semanas, em cima da mesa das visitas. Na falta de paredes, Henri Salvador compõe o silêncio. Chá bem quente, trazido da Índia. E chuva e frio lá fora. Em dias como estes a gente quase consegue esquecer-se que prefere as férias de verão.

O que atormenta nao é a certeza das inevitabilidades já espreitadas ou a confirmação dos piores cenários cogitados, mas sim a surpresa rasgada em jeito de grito. Como se toda a vida devêssemos ter-nos preparado para não sermos apanhados desprevenidos por aquele momento.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Do (con)fuso horário

Durante vários dias, por razões ponderosas, perde-se a noção do dia e da noite. Tal como os loucos perdem, na sua atormentada demência, a noção do bem e do mal e do verdadeiro alcance de cada um deles. A normalidade segue uma vez mitigados os efeitos do jet lag.

Post(a) em sossego

Depois da tempestade e do desvairo, a paz das águas calmas. Se não no moleskine, ao menos na agenda e na secretária.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Moleskine novo (comprado ontem) e um template por estrear para acolher tantas mudanças.
Na Jukebox mental, para matar saudades do Marais, Aznavour.
Com um obrigada ao Tiago, pela infindável paciência e por distinguir o essencial do acessório.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Hermenêutica de hora de almoço

É, naturalmente, e em última análise, uma questão de caça. O problema (para caças e caçadores) é que caçar hipopótamos dá muito menos gozo do que caçar gazelas.

[Para S., que foi uma agradável surpresa.]

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Logo à noite, no CCB

[Brad Mehldau, um dos mais prestigiados pianistas de jazz da actualidade, é dotado de uma técnica notável(...)]
A minha fuga. Por duas horas. Para longe.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Em vez de tudo isto: uma lareira e neve lá fora.

Era duro com os outros, mas implacável consigo mesmo. Nunca se deixou ser feliz.

Tinha uma vida cheia de pessoas e a alma vazia de gente.

Dos problemas morais hipotéticos

Quem não quer ser bobo não lhe veste a pele.

sábado, janeiro 20, 2007

Culinária aplicada

Cedo lhe foi ensinado que, na cozinha, se queriam facas bem afiadas e que a eficácia do corte dependia de não serem lavadas com água quente. Parece que o calor é inimigo da acutilância. Cautelosa, passou o resto dos tempos a lavar a vida a frio.

Na jukebox mental

Distinguir o essencial do acessório.

As time goes by, Frank Sinatra.

Na secção Bed & Bathroom da vida

[O balconista] - Que cortina é que vai querer levar?
[Ela] - A de ferro, por favor.

O (primeiro) balanço

Dão-nos um ano novinho em folha e nós não descansamos enquanto não o estragamos. Como as crianças mimadas que recebem brinquedos a mais.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Mínimos para 2007

Não escorregar na mediocridade, não cair da altivez.

Fora do comum

A diferença entre sermos tratados como um ser humano singular ou como uma doença rara.

lock-out emocional


O lock-out pressupõe uma decisão unilateral do empregador, motivada por um conflito laboral, que imponha a suspensão total ou parcial da actividade laboral.

Constituição Portuguesa Anotada, Jorge Miranda e Rui Medeiros


Ou quando a parte que, numa relação emocional, domina o acesso aos meios de produção resolve, pura e simplesmente, pôr um cadeado na porta. Acontece.

domingo, janeiro 14, 2007

Conversas paralelas (ouvido na mesa ao lado)

[Ele] - Era um nome mais ou menos poético, se não me engano era...(...)
[Ela] - Parlamento?

Sindicalismo emocional

Era militantemente de direita mas, cada vez que ele esboçava contrariá-la, ameaçava com greves e paralizações. A educação conservadora inibia-a, contudo, de trazer manifestações para as ruas.

sábado, janeiro 13, 2007

Classificados

Torne-se imune à dor. Pergunte-nos como.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Não tenho medo dos que mentem, mas sim dos que constroem, sobre as coisas tal como são, realidades paralelas e distorcidas, envolvendo o outro num mundo reles à sua triste imagem e enfezada dimensão.
[para I., com a certeza de que sabe do que estou a falar.]

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Ah pois vamos

Por agora ficamos em que há amores dos que amam e os outros, que são, de resto, mais duradouros e de trazer por casa. Com estes faz-se tudo o que se quer. Fazem-se famílias inteiras, sexo, e até má poesia. São coisas de que iremos falar.
A ronda da noite, Agustina Bessa-Luís

Das danças do acasalamento

Como alguns de nós nasceram para o tango (ainda que lascivo, olhos nos olhos) e outros para fandangos de parceria multiplicada ou danças de pauliteiros que envolvem demasiados participantes e requerem a absoluta sincronização e sintonia entre todos para evitar o descalabro de um deles sair dali com a cabeça rachada.

É comummente aceite e sabido que as relações a três são uma coisa complicada. O bom senso, a prudência e a brigada de costumes previnem os menos preparados e aconselham que evitem a quadratura do círculo.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Incompatibilidades de Software

Ou como somos tantas vezes confrontados com o facto de nos comportarmos como pouco mais do que versões desactualizadas de nós mesmos.

Perdidamente não quer dizer que arrancasse os cabelos e fosse para a varanda de madrugada, ouvir a cotovia. Os grandes amores são como as grandes dores, silenciosos. Só trazem com eles a virtude de em nada serem calculados, nem sequer pressentidos. Decorrem como sintomas que mais parecem de doença extraordinária, se não é que o amor não é uma doença das células que se renovam. E aqueles que não amam contam mais células mortas do que as outras pessoas, os amantes que amam.
A ronda da noite, Agustina Bessa-Luís

A única terapia em que se acredita


E, naquele dia que se fazia quase noite, a única coisa que a faria feliz.

A única vantagem de acharmos que somos sempre capazes de tomar conta de nós é estarmos absolutamente convencidos disso.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Nas relações entre homens e mulheres como na patinagem

Quando uma acção ou sequência de acções não produzem o fim adequado, não pode(m), naturalmente, obter uma elevada pontuação no que diz respeito à apreciação técnica. Há, contudo, uma data de coisas que, ainda que absolutamente inconsequentes, são tão bem feitas, mas tão bem feitas, que não podem deixar de obter a mais elevada nota artística.

O benefício da dúvida

Concedê-lo a outrem é uma obrigação moral para o agente apenas e na medida em que exista margem para dúvidas.

O optimismo antropológico é como a cocaína: embora potencie a nossa habilidade social, custa caro, tem efeito demasiado efémero e nunca é tão boa ideia como, a início, possa parecer. Tem, sobre a segunda, a clara vantagem de não viciar.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

2007 - O Oráculo (2)

Primeira entrega da engomadoria este ano: grande parte da minha roupa trocada com a de outro cliente. Levei 10 minutos a explicar que as camisas, de homem (tamanho L), não podiam, objectivamente, ter partido lá de casa. Contrariado, o mensageiro concedeu levá-las de volta. Tão contrariado pela falta de um homem lá em casa como as minhas tias. Para a próxima fico com as camisas.

2007 - O Oráculo

Às 7 e meia da manhã do dia 1 de Janeiro, em traje de festa, pequenas queimaduras nas mãos (ainda visíveis) causadas pelo incêndio que deflagrou dentro de uma mala minúscula e que uma alma iluminada tentou apagar com Whisky. Tudo para salvar o Moleskine. Não tanto por amor à vida lá vertida, mas porque lá estava o Visa.

On being a conservative

provide; provision; provider
[um poste que não é sobre rendimentos]

Na jukebox mental

Memórias do centro da Europa.

À mesa das negociações

(e não apenas)
As mulheres detestam apertos de mão lânguidos, indolentes.



Going up?

[um poste que não é sobre mercados financeiros]

quinta-feira, janeiro 04, 2007

( Finalidades das penas e medidas de segurança)
1. A aplicação de penas e de medidas de segurança visa a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
2. Em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa.
3. A medida de segurança só pode ser aplicada se for proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.

[artigo 40.º do Código Penal, negritos nossos]

quarta-feira, janeiro 03, 2007

[Ela] - Bolas...esqueci-me de uma coisa!
[A amiga] - e era importante?
[Ela] - Claro que era importante. Só as coisas importantes correm o risco de ser esquecidas, as outras só passam despercebidas.

Paternalismo consentido

Um beijo na testa. De algumas pessoas. Em alguns momentos.

A maldade dos doces é como as queimaduras causadas pelo gelo: por ausência da imagem agressiva da chama não nos apercebemos dela até nos ter feito um buraco na pele; e temos dificuldade em acreditar até a sentirmos de forma nítida e inequívoca. Mas dói. Que se farta.

Saíam sempre juntos, talvez porque um deles - ou ambos- precisasse de prolongar a ilusão de que viviam a mesma vida e voltavam ao mesmo mundo. Sem que o outro que caminhava, silencioso, ao seu lado, tivesse coragem de desmentir.

Algumas pessoas deviam viver a vida como se de liberdade condicional se tratasse. Teriam tutores - a quem prestar contas dos seus actos - e restrições à mobilidade. E nem isso as poderia salvar de toda a espécie de apuros.

Misoginia invertida

Ou como alguns homens extraordinariamente bonitos valem o equivalente à sua beleza em insipidez.

Os assépticos

Passamos os dias a tentar ser assépticos. A conter a ira porque socialmente reprovada, a esconder a ambição porque pecaminosa, a disfarçar a luxúria e os amores porque a exposição de sentimentos é coisa de gente mal ensinada. Medimos palavras e gestos, contemos gritos e inibimo-nos de fazer voar objectos que se dispõe em tom de afronta.
Passamos metade da vida a procurar sentimentos, sensações e sentidos e outra metade a mergulhá-los na indiferença. Até nos tornarmos assépticos, estéreis. Adequados para uso hospitalar.