Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

sábado, março 31, 2007

(Podia ter sido) na mesa ao lado.

[Ela] Gira, bem arranjada, ofegante de ter andado à pressa: - Desculpa o atraso, querido. Estive no SPA.
[Ele] Visivelmente mais velho, severo, semblante carregado de quem se leva muito a sério: - Na Sociedade Portuguesa de Autores?
[Ela]: Não, coração. No Ritz.

sexta-feira, março 30, 2007

Na Jukebox Mental

Cuidados (literalmente) paliativos para inícios de primavera de condição metereológica instável.

[My Body is a Cage, Arcade Fire (Neon Bible)].

Teste aqui a sua misantropia

Adquira habitação própria. Faça dela uma casa de catálogo. Sem mais resquícios de cor ou humanidade do que algumas fotografias dispersas e lombadas de (muitos) livros. Acorde com a empregada doméstica um horário que permita o absoluto desencontro. Trabalhe de porta fechada num gabinete só seu. Caminhe, de manhã, para o escritório, e, ao fim do dia, para casa, na exclusiva companhia do I-pod. Encontre os amigos que escolheu. Volte para a casa. O seu silêncio, os seus discos, os seus livros e o comando da sua televisão sobre o qual é exercida a total ditadura do aquário (mute e figuras humanas só para permitir ilusão de movimento). De caminho, vá conhecendo crápulas, idiotas, gentinha, casanovas de bairro, e mulherocas bastante insípidas. Regresse aos seus livros, discos e cadeiras confortáveis. Escolha mobília que não lembra a mais ninguém. Resplandeça na (quase) total ausência de cor. Ainda acha que precisa de gente? Eu, só da minha, e da outra que não conseguir evitar.

Música para ler



I won't be the one to disappoint you anymore,
I know, I've said all this and that you've heard
It all before,
The trick is getting you to think that all this was your idea.
And that this was everything you've ever wanted out of here,
Love's not a competition but I'm winning.
I'm not sure what's truly altruistic anymore,
When every good thing that I do is listed and you're keeping score,
Love's not a competition but I'm winning
Love's not a competition but I'm winning
At least I thought I was but there's no way of knowing,
At least I thought I was but there's no way of knowing,
You know what it's like when you're new to the game but I'm not,
I won't be the one to disappoint you,
I won't be the one to disappoint you anymore
[Kaiser Chiefs, "Love's Not A Competition (But I'm Winning)"]

quinta-feira, março 29, 2007

Algumas pessoas e relações humanas são como aquelas velas mágicas dos bolos de aniversário de quando somos pequenos: a turba canta desafinadamente, bate palmas descoordenadas, a gente sopra, sopra, apaga as ditas, e elas tornam a acender. Uma e outra vez. E mais ainda. Mesmo que já ninguém cante nem bata palmas. Algures entre a inutilidade patética e a empáfia solitária.

Agradecimentos e gentilezas várias

1. A Pedro Correia, do Corta-fitas, pela simpática referência. Já agora, a mistura só é indigesta para os iludidos, os clientes da casa trazem sais de frutos. Volte sempre.
2. A Miss Woody e Miss Allen, por terem explicado aqui o que poucos entenderam em qualquer outro lado.
3. À Ana de Amesterdam, uma fortaleza surpreendente que nos acolheu nos linques.
4. À Luna, pelas horas perdidas para descobrir o Mel.
5. Aos vizinhos Incontinentes Verbais, pelo acolhimento lá na casa.

A todos: é um prazer ter-vos por cá. Nos fins de tarde servimos Cocktails. Estão em vossa casa.

Diz que é uma espécie de ressurreição



do Latim resurrectione

s. f.,
acto de ressurgir;
reaparecimento;
renovação;
por ext. cura imprevista.

E, por agora, é tudo o que temos a dizer.

sábado, março 24, 2007

Na jukebox mental (nota explicativa)

Thrill (noun)
(1) a sudden wave of keen emotion or excitement, sometimes manifested as a tremor or tingling sensation passing through the body.
(2) something that produces or is capable of producing such a sensation: a story full of thrills.
(3) a thrilling experience: It was a thrill to see Paris again.
(4) a vibration or quivering.
(5) Pathology. an abnormal tremor or vibration, as in the respiratory or vascular system.

[dictionary.com]

Qualquer das explicações supra servirá, na óptica dos utilizadores e tendo em conta os factos ocorridos, como definição adequada para o sujeito da oração gramatical. No mais, releva o predicado.

Na jukebox mental

The Thrill is Gone, Chet Baker.

Para colar na porta do frigorífico (iii)

sexta-feira, março 23, 2007

Quem quer mesmo saber a verdade não pergunta, descobre.

quinta-feira, março 22, 2007



Hoje o Conselho de Administração assegura apenas serviços mínimos. A capacidade está, por parecer vinculativo do conselho consultivo, limitada aos actos de gestão corrente, i.e., aqueles dos quais não resulte a constituição de quaisquer obrigações para a sociedade.

quarta-feira, março 21, 2007

Parece que hoje também é Dia Mundial do Sono.

No dia mundial da Poesia (em tempos de guerra)

THIS IS WAR

There is no one
to show these poems to
Do not call a friend to witness
what you must do alone
These are my ashes
I do not intend to save you any wor
kby keeping silent
You are not yet as strong as I am
You believe me
but I do not believe you
This is war
You are here to be destroyed

Leonard Cohen

terça-feira, março 20, 2007

Nos últimos tempos só saía com literatos, e, enquanto as outras meninas escolhiam vestidos, ela fazia fichas de leitura para preparar os encontros.

Trabalhos

Na barra do lado, mais blogues que gostamos de ler: A Memória inventada, Na Paisagem, Complexidade e contradição, Corta-fitas e O Regabofe. Mel e cicuta, mas não apenas.

Na jukebox mental

Cat Power e Karen Elson (sim meninos, a top model) recriam um clássico de Gainsbourg. A tocar, ali em cima: I love you (me either). Bom para os dias que correm.

segunda-feira, março 19, 2007

A princesa (adaptado do original de Maquiavel)

Desde muito cedo fui aprendendo que o critério essencial a ter em conta, na aferição dos nossos actos, é a eficácia. O canalha deve sempre desferir um golpe certeiro e apropriado a deixar o adversário no chão, com ferimento suficientemente grave para que este fique impedido de retaliar e parar a marcha, já em curso, para a produção do resultado pretendido pelo primeiro. Na maldade, a dissimulação é o caminho óptimo para a elevação e, sem elevação, um canalha não passa de um mero ladrão de galinhas. E um ladrão de galinhas nunca se senta à mesa com os senhores da casa.

Entretanto, na mesa ao lado (2)

[Rapaz A] - Estou, realmente, apanhado por Y...
[A amiga B] - Que bom, é tão bom estar perto de um homem apaixonado.
[A amiga C] - Não sei bem, há demasiado tempo que não estou perto de nenhum.
[A amiga B] - Mas tu não tiveste namorado até há uma semana atrás?
[A amiga C] - (Silêncio)

Entretanto, na mesa ao lado

[A amiga] - Aqueles comprimidos novos para a gripe que me aconselhaste são óptimos, foi o teu médico?
[Ela] - Não, o meu ex-namorado.
[A Amiga] - Ex-namorado? Sou uma das tuas melhores amigas há anos e conheci todos os teus ex-namorados. Como é que nunca ouvi falar deste?
[Ela] - Durou uma gripe.

sexta-feira, março 16, 2007

Para colar na porta do frigorífico (ii)


['O meu caso com Mussolini' , para ler na totalidade in Tradução Simultânea]

Para colar na porta do frigorífico

[Elogio do Crápula, para ler na totalidade in A Memória Inventada]


A salvação? É estar a salvo.

quinta-feira, março 15, 2007

O Sitemeter é como o algodão: não engana

Tal como o Daniel Oliveira, desde que mudei o template achei que estava a escrever para 3 ou 4 pessoas (os que comentavam ou respondiam por mail e amigos que enviavam sms). Depois de alguns trabalho de reparação percebi que estão mais desse lado. A emissão prossegue como de costume.

Classificados



















Dr. House & Mr. Darcy (um franchise de futuro)

Procura-se, para compromisso sério, cavalheiro que corresponda, cumulativamente, aos qualificativos supra citados.
Respostas à caixa de comentários. os candidatos fraudulentos podem poupar trabalho a toda a gente e dirigir-se directamente à sarjeta. A gerência agradece penhoradamente.

Carcavelos [surf emocional]


A manhã tinha sido péssima, fastidiosa. Naquele dia tinha acordado com uma sensação de aridez que já não experimentava há muitos meses. Lembrava-se da última vez que tinha sentido aquilo. Afinal, o coração é um órgão muscular, e, como qualquer músculo que não seja exercitado há muito tempo, fica dolente, e, depois de induzido a esforçar-se, dorido. A tarde adivinhava-se pouco melhor, entre o tédio do direito e a falta de graça da humanidade que lhe viria como apêndice. Resolveram almoçar na praia, andar de pés descalços na areia quente, arrepanhar as calças do fato e molhar os pés nas primeiras águas dos dias de sol. É claro que não é bom ir trabalhar com os sapatos cheios de areia. Mas é óptimo chegar à conclusão que, por pior que às vezes possa ser, mais vale morrer, a viver uma vida que não seja a nossa. A que pudemos escolher. Mesmo que seja para estragar.

Liaisons Dangereuses - Moral da história

Coisa importante (e útil) é ir retirando lições das leituras que conseguimos fazer vida fora. Mais do que juntar palavras, perceber o que é que tudo aquilo junto quer dizer (acho que lhe chamam literacia). Muitas destas coisas nós até já sabíamos ou tínhamos visto, só não tínhamos tido a disponibilidade mental de pensar nelas.
Reflexão para hoje: O nosso cúmplice na mentira e na traição será, muito facilmente, o primeiro a fazer de nós vítima de idêntica mentira ou traição. Dois predadores não poderão percorrer juntos todo o caminho. Almas avisadas e prudentes tomarão cautelas para não provar do próprio veneno.

Do inevitável

O ser humano é o único animal que não aprende com os erros da própria espécie. Tem a vaidade ensimesmada de achar que ante os mesmo factos e circunstâncias equivalentes será capaz de fazer o que outros não fizeram ou não repetir os erros dos que o precederam. A presunção é uma coisa muito tola. E muito humana.

quarta-feira, março 14, 2007

E.R.

Daquele dia em diante, passou a olhar para os apaixonados da mesma maneira que os médicos que têm nojo de gente doente olham uma sala de espera repleta de sobreviventes de um choque em cadeia. Com o asco de quem não quer ver demasiado perto nada daquilo e a angústia culpada de saber que é tarde demais para fugir a uma condição que, quando jovem, escolheu, porque lhe garantiram ser inevitável para quem reunisse aquelas aptidões singulares.

Saber de mulheres


[House]- Have you seen her shoes? The eyes can misread, the smile can lie, but the shoes always say the truth.

terça-feira, março 13, 2007

O palhaço triste

A julgar pelo número de vezes que tenho ouvido expressões como: "[x] achou-te imensa graça"; "[y] só fez isso porque te achou graça; "[w] pode não gostar de ti, mas reconheceu que tens mesmo muita graça", vou passar a lembrar-me de não tornar a sair de casa sem um nariz vermelho e uns sapatos mesmo grandes. Afinal, estamos cá todos para nos irmos entretendo uns aos outros. Nos mais variados sentidos.

segunda-feira, março 12, 2007


[Cameron]- I know two ways of dealing with things. One, I can control, and is to leave. Goodbye, House.

[House]- (...)

Na jukebox mental

A pergunta do momento.

Charles Trenet, Que reste-t-il de nos amours?

Máxima umbiguista

Se (já) não podes contigo, junta-te a ti (e combate o Mundo).

Da doença bipolar



A Doença Bipolar, tradicionalmente designada por Doença Maníaco-Depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e «mania». Qualquer dos dois tipos de crise pode predominar numa mesma pessoa, sendo a sua frequência bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves.
As viragens do humor, num sentido ou noutro, têm importante repercussão nas sensações, nas emoções, nas ideias e no comportamento da pessoa, com uma perda importante da saúde e da autonomia da personalidade.



Não tendo nunca nutrido especial interesse pela botânica, sempre me despertou alguma curiosidade o que, aqui e ali, fui ouvindo dizer sobre os eucaliptos. Parece que, uma vez plantados, absorvem toda a água e minerais do terreno onde estão impossibilitando a sobrevivência de outras espécies e tornando aquela terra árida e estéril. Não tenho dúvidas que, em matéria emocional, alguns de nós são eucaliptos de si mesmos. Sem qualquer contemplação pela fecundidade da terra que, afinal, também são eles.

Das imagens que vendem




Desde o início dos tempos que a fragilidade é envolta numa redoma de beleza serena. Elas, enquanto meninas, devem ser material protegível. As mulheres bélicas podem parecer interessantes na sua aura de perigo e mistério, mas apenas enquanto se lhes procura o equivalente ao calcanhar de Aquiles. uma vez penduradas as luvas e embainhada a espada no sotão das emoções não se tornam frágeis como as que se quereria proteger, mas também já não são um adversário à altura para quem queira apenas lutar com elas. São apenas um repositório de emoções contraditórias. Uma espécie de loja de bric-a-brac onde é preciso procurar demais até encontrar alguma coisa que valha a pena levar para casa.

domingo, março 11, 2007

Não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes e devemos, a todo o custo, evitar aqueles onde não chegámos a sê-lo.

sábado, março 10, 2007

Ouvido na mesa ao lado

Absorveu impavidamente o que a amiga tinha para lhe contar e sentenciou: Uma Madame Bovary voando sobre um ninho de cucos.

quinta-feira, março 08, 2007

Entre a espada e a parede percebeu que acabar bem e ter um final feliz não eram uma e a mesma coisa, ou sequer parentes distantes.

quarta-feira, março 07, 2007

Cada vez que, por este ou aquele motivo, me é pedida a apresentação do registo criminal, não posso deixar de esboçar um sorriso satisfeito porque, para esses efeitos contabilísticos, o wishful thinking não conta. No purgatório logo se vê.

Saturada do turbilhão de acontecimentos inusitados reclamou aos senhores do universo uma vida nova. Apresentado o orçamento pelos empreiteiros de existências notou que as vidas estavam pela hora da morte. Deixou-se ficar.

terça-feira, março 06, 2007

Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte. Regresso à juventude, à idade adulta, ao simples dia de ontem e a infinidade de soluções que não adoptei dava para um mundo de vidas. Foi uma só. Nela realizei, num único percurso, aquilo que constituiu o todo de uma vida humana. E todavia, nessa estreiteza de ser está o infinito de mim.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 4'

Magnani, uma perspectiva penalista


Da teoria do domínio do facto [Klaus Roxin, penalista alemão]
A ideia do domínio do facto parte desta ideia fundamental: o autor de um facto ilícito é aquele que tem o poder de fazer avançar o facto ilícito, isto é, que tem o poder de provocar a agressão no bem jurídico.
Domínio do facto é, portanto, um certo poder de fazer evoluir um perigo para um bem jurídico, mas este poder de fazer evoluir algo significa duas modalidades fundamentais no domínio, este domínio pode ser positivo ou negativo: (i) O domínio do facto é positivo, na perspectiva de Roxin, quando o domínio de fazer evoluir o facto para a consumação; (ii) O domínio do facto é negativo, quando é apenas o domínio de frustrar o avanço para a consumação.
Roxin retira daqui um ideia extremamente importante: se qualquer pessoa pode ter no fundo o domínio negativo, isso não caracteriza a autoria, o que caracteriza a autoria é o domínio positivo do facto.

segunda-feira, março 05, 2007

Eclipse Total

No mesmo dia, à mesma hora, não muito longe dali. Não teve nada a ver com a lua, mas deixou de se ver. Se calhar porque nunca esteve lá.

quinta-feira, março 01, 2007

I predict a riot [kaiser Chiefs]