Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

terça-feira, outubro 31, 2006

O teu tipo de homem é o homem fatal: Ou te mata de amor, ou pura e simplemente te mata.

Que o passado, de vez em quando, me bata à porta, eu não aprecio, mas ainda tolero. Mas que toda a família se instale no café do meu bairro, já me parece manifesto mau gosto do Argumentista.

Pessoas (colectivas)

No Código das Sociedades Comerciais, Capítulo XII — que tem por título "Dissolução da sociedade"— temos o artigo 142º que, sob a epígrafe: "Causas de dissolução administrativa ou por deliberação dos sócios", dispõe, nomeadamente, o seguinte:
"Pode ser requerida a dissolução administrativa da sociedade com fundamento em facto previsto na lei ou no contrato e quando:
a) Por período superior a um ano, o número de sócios for inferior ao mínimo exigido por lei, excepto se um dos sócios for uma pessoa colectiva pública ou entidade a ela equiparada por lei para esse efeito;
b) A actividade que constitui o objecto contratual se torne de facto impossível;
c) A sociedade não tenha exercido qualquer actividade durante dois anos consecutivos;
d) A sociedade exerça de facto uma actividade não compreendida no objecto contratual."

Vistas bem as coisas, estes parecem-me fundamentos igualmente sólidos para justificar o fim das relações entre as pessoas. Vamos deter-nos, em especial, nos dois primeiros:

(i) De facto, se, ao fim de algum tempo, uma relação se vai mantendo na total ausência de uma das partes, perece-me natural que se possa decretar a “morte administrativa” da coisa. Não terá sequer de haver audição dos interessados —porque, ali, manifestamente, já não há interesse tutelável há muito tempo —mas apenas a notificação de ambos. Para que não restem equívocos, para que não se pense que a relação sobreviveu à ausência.
Mais complicada me parece aqui a aplicação do prazo de um ano. Há relações que sobrevivem na unilateralidade — graças a um hercúleo esforço (ou a uma imensa ignorância) da parte presente — durante anos a fio, e outras que não durariam uma semana sem um escrupuloso cumprimento, por cada uma das partes, de todas as obrigações que daí possam decorrer. Enfim, a aferir casuisticamente.

(ii) A impossibilidade de desenvolver a actividade que configura o respectivo objecto social é, de todas as causas de dissolução administrativa, a que me parece mais injusta, mas mais recorrente.
A impossibilidade objectiva de manter ou iniciar uma relação, seja pela incompatibilidade das características definidoras dos indivíduos ou pela mera e inultrapassável inadequação conjuntural, legitima que, alheia à vontade das partes, e, em larga medida ao que realmente sentem, a dissolução administrativa seja o inevitável destino.

O mais relevante é que esta dissolução opera administrativamente, sem que tenha de (ou mesmo possa) existir qualquer manifestação da vontade pelas partes. E o mais cruel também.

Mas o mais importante é que a falta de uma das partes, e, bem assim, a impossibilidade objectiva que suportam, no essencial, estes normativos, não estão, em absoluto, blindadas ao livre arbítrio.

raciocínio cilíndrico direccionado

Há-de haver "o cúmulo do eu" de cada um de nós.

segunda-feira, outubro 30, 2006

E o altruísmo sob coacção? continua a ser altruísmo ou é apenas um jogo de matraquilhos? E se a coacção não for dolosa, mas apenas negligente? E se, ainda que a coacção se possa ter por dolosa, aquele que a exerce tiver actuado ao abrigo do estado de necessidade? Como se afere, em concreto, da proporcionalidade quando os valores em causa têm o mesmo grau de importância?

E quando

o altruísmo não é mais do que uma boa desculpa— como um cheque endossado a um terceiro que dele beneficie directamente— para não sermos confrontados com as nossas próprias falhas, fraquezas e imperfeições?

Há dias

em que vivemos de tal maneira a angústia que nos esquecemos de existir.

Vantagens do medo

Poder jogar o jogo, delinear estratégias, dar indicações expressas e vinculativas aos jogadores e depois fingir que se esteve o tempo toda na bancada, a assobiar para o lado.

domingo, outubro 29, 2006




(clicar para ouvir)

Promete-me

Pouco antes de morrer obrigou-me a uma única promessa: Que seria feliz.
Triste e lacónica, perdida na aflição de quem, aos 12 anos, conhece a finitude dos que mais ama, balbuciei que sim. Que prometia. Que ia ser feliz.
Mais do que movida pela noção cristã de que não se nega um pedido no leito de morte— que na altura me era ainda meramente figurativa e hollywodesca—assenti a com ingenuidade de quem não percebia o verdadeiro alcance daquele pedido.
A felicidade não decorre do mérito, empenho ou esforço. Estou cada vez mais convencida que a felicidade só está ao alcance dos que vivem na ausência da angústia ou dos que, quando a tenham presente, têm à sua volta todas as ferramentas que permitem relativizar e diminuir os seus efeitos.
A ausência de angústias pressupõe uma de duas coisas: (i) a resolução da angústia pela eliminação da causa ou (ii) o total e originário desconhecimento do que possa originar esse estado de alma, a incapacidade de enxergar determinados factos tidos como geradores de angústia.
Ora, o primeiro caso é de difícil alcance, porque, no mais das vezes, não está na nossa disponibilidade afastar os motivos e causas das nossas inquietação. E o segundo, enfim, é um bocadinho como preferir ser cego só para não ver as telenovelas da TVI.
O certo é que em nenhum dos casos a libertação ou ausência da angústia depende exclusivamente (ou sequer minimamente) do livre arbítrio. Ora, a felicidade, quando se é assolado pela condição de angustiado é muito mais trabalhosa, ou mesmo inalcançável.
Não devemos prometer coisas que não sabemos se podemos cumprir.
Foi também ele, que no leito de morte me arrancou esta promessa, quem me ensinou este mandamento. E tenho a certeza que fez ambas as coisas pelas mesma razão.

Woman Killed By 7,600 Pound Elephant

A Mansfield native was killed by an Asian elephant last week. X had been working with the elephant at a wildlife sanctuary in Tennessee.

Authorities ruled the incident an accident and say the elephant's life will be spared.

A sanctuary executive says X was hosing down the elephant when she tried to check on a swollen eyelid. The executive says the elephant wheeled around, the handler fell backward and the animal stepped on X, killing her instantly.

In a statement posted Saturday, the sanctuary said that X was devoted to the elephants, many of whom came from performance backgrounds.

"X made it perfectly clear in word and deed that no harm should come to any elephant no matter their action," the statement said. "She shared the Sanctuary's philosophy that Winkie will not be punished for her actions but managed in a way that keeps another innocent caregiver out of harm's way."

sábado, outubro 28, 2006

Mesmo para alguém capaz de apreciar a subtileza do melhor humor negro, não deixou de parecer ironia cruel que se tenham encontrado num lugar chamado "outro tempo".

sexta-feira, outubro 27, 2006

Gostar de Cicuta


Ontem à noite, no canal 1, entrevistado por Judite Sousa, António Lobo Antunes lembrou-me como deve ser fácil para uns não gostar dele e como é impossível para mim não lhe estar (e ser) incondicionalmente rendida.

segunda-feira, outubro 23, 2006

K.O.

Porque às vezes são simplesmente grandes demais. Mesmo para quem os caçou uma vida inteira.

Hoje rezo para que o mundo não fique mais pequeno. Este blogue estará em serviços mínimos até ao teu regresso. Até que possas voltar a lê-lo.

domingo, outubro 22, 2006


Na fotografia, exaustos soldados neo-zelandeses descansam durante a guerra civil.

Muitas vezes não é do confronto que morrem as tropas. É do cansaço. Não se trata da força do inimigo, mas da nossa própria fragilidade (ou humanidade). Enquanto aguardamos o confronto temos a adrenalina da antecipação, a galvanização pela esperança. Já depois da batalha não somos mais do que um depósito de mazelas.

sábado, outubro 21, 2006

Paliativos pós girls night out

Sopa, chá vermelho rouge bourbon, aspirinas para a dor de cabeça, contos de Tchékhov para a alma, Madeleine Peyroux na jukebox, scones, a manta de tantos anos no sofá e, lá fora, a protecção civil em alerta amarelo.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Uma nova estação, os mesmos lugares.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Confiar abandonadamente (2)

Confiar abandonadamente

A confirmação do pior dos receios

Ontem, depois de entrar em casa com mais uma aquisição para este inverno, gelar ante a confirmação dada pelo closet de que não caberá nem mais uma caixa de sapatos.

mão à palmatória

Este post da minha amiga Ithaki originou uma conversa na qual, à data, lhe disse que discordava daquilo que ela, nesta matéria, defendia.
Ontem, depois de um episódio menos feliz, percebi que, de facto, não há força que resista à covardia. Nem fraqueza que não ceda à coragem.
Na verdade, o que faz falta, são seres humanos decentes. O resto é retórica.E bricolage.

A enorme diferença entre ter uma cabeça arejada e ter uma cabeça cheia de ar.

terça-feira, outubro 17, 2006

Ceder aos pecados mortais



No restaurante Envy, em Amesterdão. Em boa companhia, porque pecar sozinho é pobreza de espírito.

Quid Juris?

Bento foi namorado de Susana que é amiga de Lúcia por quem Mário está apaixonado. Mário é amigo de Luís que anda envolvido com Mariana que foi colega de Susana. Lúcia não está apaixonada por Mário, mas por Luís. Mário e Bento trabalham juntos mas não gostam um do outro. Mariana está de má fé.
A vida não é muito diferente dos casos práticos da faculdade. Há uma infinidade de criaturas, interesses conflituosos e a maioria dos envolvidos reclama direitos que na verdade não tem. E dispomos apenas da esperança média de vida para resolver tudo isto. Não admita que fiquemos longe da solução e acabemos, invariavelmente, chumbados.

Come to the dark side. We have cookies.

Nem tudo o que é solúvel tem solução.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um mandamento


É mais ou menos isto, mas como lema de vida.
Sinal encontrado pelas ruas de Amesterdão, à esquerda daquele chocolate quente fantástico.

quarta-feira, outubro 11, 2006

O Eixo do Mel (até já)

Les liaisons dangereuses

Visconde de Valmont: Julgava que a traição era a vossa palavra preferida.
Marquesa de Merteuil: Não. Não. "Crueldade". Tem um toque mais nobre.

terça-feira, outubro 10, 2006

Walking (away) in your shoes

Como alguém uma vez me fez notar, mesmo que não sejamos nada daquilo que nos acusam de ser, ouvidas, repedita e continuadamente, determinadas formulações acabamos, inevitalvelmente, por ser transformados nessas coisas. E noutras ainda piores.

Algumas conversas deviam ser servidas como o whisky de má qualidade: com muito gelo para queimar menos a garganta e acompanhadas de dois analgésicos para minorar os efeitos adversos na manhã seguinte.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Amizade 15 anos, com duas pedras de gelo

Sabendo-me de partida um amigo envia a seguinte mensagem:

logo que chegares liga-me pq preciso de falar 4 horas e beber uma garrafa de whisky para decidir a minha vida.

Assim farei.

IKEA ou a função sociológica do design sueco (3)

Diversão feminina:

Leve a sua cara-metade até a porta da nossa catedral do consumo nórdico, faça uma lista de produtos a adquirir de entre os quais constem nomes interessantes como escumadeira, passe partout, pout pourri, etc.
Depois siga-o. E filme. não há nada mais divertido do que o ar de pânico deles à frente das prateleiras.

IKEA ou a função sociológica do design sueco (2)

A gravidez tolda o sentido estético. A partir do quinto mês já se acredita que existem várias cores acabadas em "inho".

IKEA ou a função sociológica do design sueco

O povo, em magotes, é perigoso e tem infindáveis recursos para alcançar a extrema fealdade. Tenho grandes reservas quanto à utilidade do design a preço da chuva se ninguém ensinar a combinar cores.

Resposta a uma sms

Também eu fico assustada com as voltas da vida ( e, às vezes, até um bocadinho enjoada porque isto anda depressa que ferve...). Mas, mesmo que eu não saiba o que raio ando cá a fazer, Ele sabe*.


*este pequeno apontamento religioso foi, naturalmente, apenas para o social.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Política, prosa e cicuta

A amiga: Tem dó de mim...

Ela: A amizade é como um boomerang, quando menos esperamos volta e corta-nos a cabeça.

Manual de sobrevivência



E agora que encontrastes a luz, não mais temereis as trevas.

Try walking in your shoes

Há algo de fascinante no que o sofrimento moral pode fazer a alguém que nada indicia ser uma pessoa frágil ou fraca. É uma coisa ainda mais insidiosa do que a doença física pode causar, pois não há perfusão de morfina, epidural ou cirurgia radical que possam aliviá-la. Quando caímos nas suas garras dir-se-ia que só nos libertamos dela se nos matar. Não existe nada que se compare ao seu realismo brutal.
Philip Roth, A mancha humana





Esta noite, no CCB, Bernardo Sassetti, Mário Laginha e Pedro Burmester lembraram-me o quanto gosto desta peça. Aqui, obviamente reproduzida numa versão menos virtuosa (e tocada a menos mãos) encontrada na aldeia global cibernética.

Esta sempre foi a banda sonora ideial para a parte das histórias de (des)encantar em que o lobo se escondia atrás dos arbustos à espera de apanhar os meninos que iam brincar na floresta. Depois de todo este tempo, e sem que ele esteja cá para me pôr o braço em volta dos ombros como nas partes dessas histórias que me faziam medo, lá fora, continua a haver uma floresta cheia de lobos.

3 Pianos: a perfeição, o talento e a virtude.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Miles ahead

Na altura em que se assinalam 15 anos sobre a morte de Miles Davis, lá fora, está com cara de tempestade. Autumn Leaves, num invulgar dia de Outono também existencial, pelo homem que ensinou as notas a juntarem-se num trompete.

Com um agradecimento pela simpática ajuda e infindável paciência do sempre cavalheiro António Amaral.



Nem destinos, nem caminhos, nem objectivos.

Pas-de-deux



Um dia, enquanto dançava (há anos que parecem nunca ter existido de tão distantes), durante um recital, o rapaz que me segurava entre pliês e pas-de-deux começou, subitamente, a ficar muito branco. Sempre com um sorriso nos lábios, dissimulando o (meu) pânico e a sua notória dor física acabámos a peça. Quando saímos do estrado percebi que ele tinha, dede o início, uma agulha (das que usávamos para coser as sapatilhas de pontas, depois de as pontas de madeira serem postas no forno, para endurecer) enfiada no pé.

Apesar da dor indescritível que devia estar a sentir, e da transfiguração mal disfarçada no semblante, os seus movimentos continuaram graciosos, tecnicamente consistentes, perfeitamente compassados.

Hoje percebo que passamos a maior parte da vida em pontas. Mais do que o talento valem-nos a disciplina e a capacidade de abstrair da dor.

domingo, outubro 01, 2006

Chá para um