Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Epitáfio

Dizia frequentemente que estava a morrer de sono, sede, cansaço ou fome. Morria de vontade, de falta de paciência, de tédio. Nunca se lhe ouviu dizer que morresse de amores por alguém. Tinha uma disciplina espartana no que diz respeito a estratrificar as suas prioridades para efeitos de sobrevivência.

As mulheres complicadas são como os puzzles de 2500 peças a preto e branco. Até se pode achar muita graça à imagem que vem na parte de fora da caixa, mas só se tem tempo para lidar com uma coisa daquelas nas férias.

O óbvio

Olhar o óbvio, identificar o óbvio, dissecar o óbvio e, obviamente, afastá-lo depois.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Em questões de política externa e noutras que, na vida, assumam idêntica importância, um só princípio orientador: não negociar com terroristas.

As mulheres vivem uma vida inteira a tentar provar ao mundo que são únicas e especiais, mas, inevitavelmente, perdem-se de amores pelo primeiro que as faça sentir uma miúda como as outras.

domingo, fevereiro 25, 2007

Na jukebox mental

Uma música para ler. Franz Ferdinand.


"Walk Away"


I swapped my innocence for pride
Crushed the end within my stride
Said 'I'm strong now I know that I'm a leaver"
I love the sound of you walking away
Mascara bleeds a blackened tear
And I am cold
Yes I'm cold
But not as cold as you are
I love the sound of you walking away

Why don't you walk away?
No buildings will fall down
Why don't you walk away?
No quake will split the ground
Why don't you walk away?
The sun won't swallow the sky
Why don't you walk away?
Statues will not cry

I cannot turn to see those eyes
As apologies may rise
I must be strong and stay an unbeliever
And love the sound of you walking away
Mascara bleeds into my eye
I'm not cold
I am old
At least as old as you are
As you walk away

And as you walk away
My headstone crumbles down
As you walk away
The Hollywood wind's a howl
As you walk away
The Kremlin's falling
As you walk away
Radio 4 is static
As you walk away

The stab of stiletto
On a silent night
Stalin smiles
Hitler laughs
Churchill claps
Mao Tse-Tung
On the back

Da representação voluntária

Quando a coisa se torna, em matéria de emoções, demasiado intrincada, porque não recorrer a um procurador que possa, com o distanciamento dos profissionais, representar os nossos interesses, poupando-nos a alguns momentos desagradáveis? E, por mais cómodo que pudesse parecer, teríamos nós coragem de lhe conferir mandatos com poderes especiais para o acto?

Tradições

Os truques mais velhos do mundo não são os truques mais velhos do mundo por acaso. São-no porque resultam (quase) sempre. E resta perceber se padecem de mera inocência ou de presunção tola os que julgam que lhes conseguem estar imunes.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007


[No fim das escadas do Sacré-Ceur, quem desce, estava este carrocel]

Andar de carrocel? está bem, vamos lá. Mas podiam, ao menos, não nos obrigar a entrar com o carrocel em andamento. Já tropecei três vezes, caí para cima da zebra, do cavalo e do leão e vejo poucas hipóteses de escapar à fúria do rinoceronte que está a olhar para mim de esguelha. No carrocel ou na vida, o importante é ter noção do perigo e ossos resistentes.

O livro certo, na altura certa (II)

(...) E são assim os homens! Todos igualmente celerados nos seus projectos, quando frequejam na execução, chamam a isso probidade.

[As Ligações Perigosas, Choderlos de Laclos]

Take the day Off



A marca de cosméticos que habitualmente uso tem um desmaquilhante chamado “Take the day Off”. A ideia é que, ao chegar a casa, aquele produto espumoso em contacto com a água tépida nos retire da cara os efeitos de todo um dia. Não deixa de ser interessante a ideia de haver qualquer coisa que, ao fim do dia, nos tire da cara, do semblante e dos ombros o peso que o mundo nos deixou. Infelizmente, a Clinique só pensou nas impurezas, na maquilhagem, nas agressões causadas pelo clima. Quem é que vai apagar os sinais visíveis (ou não) das agressões causadas pela humanidade com quem somos obrigados a cruzar-nos?

Uma peça de roupa clara de que gostava particularmente foi parar à máquina de lavar num programa de lavagem de roupa preta e azul escura. Escusado será descrever o resultado. Enquanto retirava, tristemente, aquela peça de roupa agora de tom cinzento encardido, percebi que com as pessoas se passa exactamente a mesma coisa: algumas não foram feitas para estar juntas quando expostas a elevadas temperaturas.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Quando somos pequenos ensinam-nos a mantermo-nos na parte menos funda da piscina. Não raras vezes vejo adultos aos berros com as rebentos na beira das piscinas. Nunca percebi como é que é suposto aprender-se a nadar assim. Às vezes é mesmo preciso ir até lá, perder o pé, esbracejar e engolir muita água, para então decidirmos finalmente ter aulas de natação. E aí, a parte funda já não nos chega, e precisamos de uma piscina olímpica.

O livro certo, na altura certa

Les sots sont ici-bas pour nos menus plaisirs *

*Os tolos vivem junto de nós para os nossos pequenos prazeres. Gresser, Le Méchant, comédia.

[As Ligações Perigosas, Choderlos de Laclos ]

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Efeito aspirina



The Strokes, Last Nite
Live at the Montreaux Jazz Festival

A minha mãe costuma contar a historia das minhas birras de criança. Aparentemente era uma criaturinha bastante calma e ensi(mim)mesmada, sem grande enlevo por berrarias. Ainda antes de aprender a falar causei o pânico na família com os episódios que envolveram deslocação colectiva até as urgências do hospital mais próximo. Consta que, sem razão aparente, deixava de respirar até ficar azul. À terceira entrada nas urgências sem que qualquer insuficiência pulmonar (ou outra) me tivesse sido detectada, um pediatra mais velho aproximou-se da minha mãe lavada em lágrimas comigo nos braços, fez algumas perguntas quanto ao momento de manifestação da falta de ar, pediu licença, e espetou-me uma palmada. A falta de ar passou, e consta que, ao contrário do esperado berreiro houve a fuga com ar indignado para o colo do avô. Não tornei a ter faltas de ar. Segundo aquele experimentado e sabedor pediatra cada vez que era contrariada esta adorável e pacífica criança escolhia, pura e simplesmente, deixar de respirar. Já imaginaram que bom que seria se metade das peixeiradas pelas quais nos fazem passar ao longo da vida fossem substituídas pelo silêncio e pela asfixia? Parece que há vidas que, desde muito cedo, não são para meninas.

domingo, fevereiro 18, 2007

Da Série "Classificados" - Sequelas em cartaz brevemente (III)














Just make sure you choose the right weapon and the perfect shoes to match it.

Da Série "Classificados" - Sequelas em cartaz brevemente (II)







Porque o importante é nadar para algum lado, mesmo que por debaixo de água.

Da Série "Classificados" - Sequelas em cartaz brevemente














Quanto a piada começou nenhuma de nós achou que isto fosse para ser levado tão a sério.

sábado, fevereiro 17, 2007

K.O.

Um amigo de longa data a quem tinha telefonado pelo aniversário disse-lhe, a propósito de emoções, que tinha acabado os seus dias de Wrestling e que procurava agora uma "coisa" calma e fácil. Não foi capaz de evitar felicitá-lo com uma espécie de paternalismo sobranceiro (embora inocente) de quem percebe que a (sua) felicidade está tão distante da facilidade como da ausência de angústia. Um lutador não é capaz de viver sem saber que tem à espera um novo round. E tampouco é capaz de pendurar as luvas se não lhe retirarem o resto da forças que lhe estejam sepultadas no corpo, numa última e humilhante batalha.

O céu tinha acabado de se desfazer em chuva sobre Lisboa num dia que todo o dia foi noite. Lutou contra o chapéu de chuva e o vento até ter olhado para aquela tempestade com os mesmos olhos com que olhou os seus dias recentes. Fechou o chapéu, desistiu de se abrigar naquela soleira de porta, saudou a chuva com passos lentos mas seguros. Sabia para onde ia. Desistiu de correr e percebeu que deixar-se dominar pelas gotas pesadas e pelo vento desabrido não era mais arriscado do que viver sem vontades. Abrandou o passo. Para se entregar à realidade sem tédio.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Dignidade na demência

[Francisco de Goya, Perro semihundido 1820 / 21, Museo del Prado, Madrid, España. ]


Contrato a favor de terceiro

Noção
1. Por meio de contrato, pode uma das partes assumir perante outra, que tenha na promessa um interesse digno de protecção legal, a obrigação de efectuar uma prestação a favor de terceiro, estranho ao negócio; diz-se promitente a parte que assume a obrigação e promissário o contraente a quem a promessa é feita.
2. Por contrato a favor de terceiro, têm as partes ainda a possibilidade de remitir dívidas ou ceder créditos, e bem assim de constituir, modificar, transmitir ou extinguir direitos reais.
[Artigo 443º do Código Civil Português, negritos e sublinhados nossos]

Derivações semânticas

[Auguste Rodin's "Danaid"]

A importância de distinguir a crueza da crueldade.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Da exequibilidade das disposições normativas


Considerandos a), b) e c)


terça-feira, fevereiro 13, 2007

Do poder de encaixe


Como duas peças de um puzzle de um total de 1500 do qual as restantes se tivessem perdido pequenas e esquecidas pelo tempo e pelas gerações. Encaixavam um no outro como em mais lado nenhum, embora não formassem uma imagem nítida, com sentido próprio, aos olhos de quem os visse juntos.

A importância de ter um plano

Cedo perceberam que o mais importante de ter um plano não era seguir o caminho traçado mas sim ter uma espécie de check list onde assinalar todos os erros, desvios e irregularidades que iam cometendo para chegar a um destino que, à partida, não sabiam ser o seu.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Há mundos enormes onde cabe pouca gente, quase ninguém. E depois há aqueles suficientemente grandes para acolher uma infinidade de gente mas que não reunem condições mínimas para a sobrevivência humana (dos outros). Alguns de nós não vêm de Marte, são Marte.

Tzero

Como se as emoções fossem apartamentos de tipologia reduzida, sempre pequenos demais para acolher os que vão batendo à porta. Muitas das vezes, a solução é comprar o apartamento do lado e deitar uma parede abaixo. Mais difícil é se o apartamento do lado estiver ocupado por emoções velhas daquelas que pagam rendas simbólicas e se recusam a ir embora, mesmo que a alma lhes esteja devoluta e à beira de ruir.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Máxima para os dias que correm

Segue, mas não te cegues.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Punibilidade da tentativa

1 – Salvo disposição em contrário, a tentativa só é punível se ao crime consumado respectivo corresponder pena superior a 3 anos de prisão.
2 – A tentativa é punível com a pena aplicável ao crime consumado, especialmente atenuada.
3 – A tentativa não é punível quando for manifesta a inaptidão do meio empregado pelo agente ou a inexistência do objecto essencial à consumação do crime.
[artigo 23º do Código Penal Português, negritos nossos]

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A verdadeira função dos que nos rodeiam é provar-nos, a cada momento, o estado das nossas reservas de auto-suficiência.

Num cinema quase vazio e com lugares marcados conseguiram sentar as pessoas quase todas nas mesmas duas filas. Eu logo vi que a senhora que nos vendeu os bilhetes tinha um ar demasiado feliz para poder ser eficiente.

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Prevenção Rodoviária

Mesmo quando achamos que a vida corre calma como um domingueiro passeio de velocidade controlada por radar na marginal, eis-nos, de um momento para o outro, a braços com um veículo sem travões descontrolado ladeira abaixo.
Não deveria haver uma espécie de saídas de emergência na vida como aquelas que existem nas auto-estradas (com areia para bloquear a velocidade e pneus para amortecer o embate) para aqueles de nós que, ainda que por momentos, percam o controlo dos destinos que conduzem?

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Na jukebox mental

Uma das minhas bandas preferidas traduz pedaços de vida para os mais atormentados.

The Kings of Convenience, "I don't know what I can save you from" [Royksopp remix].

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W.I.P

Na azáfama das mudanças, com template melhorado, foram actualizados os links ali ao lado. Mais amigos e outros que gostamos de ler: Diário, Mundo Fechado, Stander Palace e Tradução Simultânea. Nós, por cá, gostamos muito de vos ver trabalhar.

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