O céu tinha acabado de se desfazer em chuva sobre Lisboa num dia que todo o dia foi noite. Lutou contra o chapéu de chuva e o vento até ter olhado para aquela tempestade com os mesmos olhos com que olhou os seus dias recentes. Fechou o chapéu, desistiu de se abrigar naquela soleira de porta, saudou a chuva com passos lentos mas seguros. Sabia para onde ia. Desistiu de correr e percebeu que deixar-se dominar pelas gotas pesadas e pelo vento desabrido não era mais arriscado do que viver sem vontades. Abrandou o passo. Para se entregar à realidade sem tédio.
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