Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Vou aqui e já volto



Até a banda sonora de muitíssimo duvidosa qualidade, alojada num canto do sótão das memórias da adolescência vivida na ilha, parece menos má.

2007

Não se adivinham novidades ponderosas com a entrada em 2007. Serão levados os problemas e inquietações semeados em 2006, as amarguras de toda uma década, as dúvidas que se acumulam desde 1979. Ainda assim, tudo isto dentro de um lúbrico vestido de seda púrpura e de uns vertiginosos stilettos. Mil vezes o declínio donairoso ao contentamento labrego.

2006

Ficará para a história não pelas muitas e relevantes portas que abriu mas pela determinante porta que fechou. Porque até as prisões de alta segurança cedem a planos de fuga longamente estudados.

Pode relevar-se num homem que não seja bravio, que não tenha a coragem dos touros para investir. Mas não pode tolerar-se a falta de espinha dorsal, a gelatinosa cedência ao conforto (ainda que emocional) comprado com silêncios e anuências contidos em acenos de cabeça. Ou a nauseabunda cumplicidade das almas sequiosas de acalmia com a fraqueza das vontades. Não se pode perdoar isso num homem. Não num homem que se queira.

Não será tanto uma questão de solidão como de exercício do direito a fruir de companhia fragmentária.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

- Os homens têm uma incapacidade natural para o amor. E as mulheres para fazer negócios e ir para a guerra.
- Mas fazem negócios e vão para a guerra.
- Como D. João amava. Para iludir a própria impotência.
A ronda da noite, Agustina Bessa- Luis

O problema da maioria dos homens que acabamos por achar interessantes é que tendem a achar isso de si mesmos. Até mais do que nós.

Na jukebox mental

A diva por excelência, para os que acreditam em novos começos.

terça-feira, dezembro 19, 2006



Este post tinha banda sonora e até tinha um texto bonito e bem articuladinho. Mas era tudo tão complicado que o mar do Guincho levou. Tal como o que sobrava de nós. É melhor deixar ficar assim, ouvir a música no I-pod e, de resto, reter a vaga lembrança do que podíamos ter sido. Nos dias em que não pudermos evitar, apenas.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Estranhamente

A mais poderosa arma de algumas mulheres é a misoginia dos homens.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Ele continuava a olhá-la como um cavalo de provas de saltos que olha os obstáculos e consegue, sem esforço ou dificuldade, ultrapassar elegante e serenamente todos eles.
Uma espécie de roubo por esticão dos pensamentos que ferviam por detrás dos olhos dela. E era a ausência nele dessa ansiedade ou medo de ser apanhado pelas barreiras que a faziam corar. De todas a vezes.


Neste lugar, noutros tempos, contigo.

Na jukebox mental

Tempos houve em que o Natal - também como festividade e não apenas como celebração ecuménica - fazia todo o sentido. Não tenho dúvidas que esses tempos voltarão. Até lá, vivo na liberdade de não ter de ter uma árvore de Natal na minha casa e de fingir que não estou atrasada na compra das (escassas) prendas.
Ensinaram-me que o Natal era feito de coisas bonitas, mas, ultimamente, tudo é muito brilhante, chamativo, colorido (e não me refiro tanto aos enfeites como às manifestações humanas). Tenho saudades dos natais mornos e discretos, como se fossem a preto e branco. Com missa na capela pequena e chocolate quente e prendas só de manhã.
Na jukebox mental, a minha ideia de Natal a preto e branco.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

O processo decisório (ou domínio do facto)

Há, pelo menos, duas maneiras de se lidar com a realidade. Podemos, pura e simplesmente, passar ao lado dos factos, negando ou ignorando apenas as evidências quando adversas. Esta é, em rigor, a existência dos modos serenos, das mortes sossegadas. E, depois, há aqueles para quem os acontecimentos são impulsos/ agressões exteriores às quais se tem, necessariamente, de reagir. E, para estes segundos, o exercício do poder de decisão é a única forma de manter o controlo. Mesmo que não se siga de forma criteriosa o caminho a início traçado, que tenha de haver desvios e percursos alternativos. Mesmo que se tenha de pôr de lado uma decisão que veio a provar-se errada para tomar de uma nova (também esta de bondade ainda incerta).
Apostar, acertar, errar, ganhar, perder, mas sobretudo decidir. Tomar nas mãos as rédeas dos caminhos (ainda que sem saída) é o que nos pode distinguir das coisas sem vida. Quando mais erro mais me lembro que estou cá por alguma razão que ainda vou descobrir. Ou decidir.

Sucedâneos (2)

Não há sucedâneos para produtos de Luxo. Pelas suas singulares características, estes podem apenas ser (vagamente) substituídos por contrafacções quase perfeitas. E contrafacção é crime. Com as pessoas é a mesmíssima coisa.

Ser adivinhada



Estão na minha secretária desde ontem, e fazem-me lembrar que ainda existe alguma delicadeza nas coisas. E nas pessoas.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Mulheres - guia lonely planet

Anything Else (2003), Woody Allen

[Amanda]: I've had a crush on you since we met. Couldn't you tell, the way I was ignoring you?
[Jerry Falk]: Well, there was something compelling about your apathy.

Só cá faltava este

Isto, meu caro J, nas tuas próprias palavras, não é nada. Mas mesmo não sendo nada, disseste-o com muita graça.
No Mel saúda-se a chegada à blogosfera do nosso esquerdo preferido, realmente, Du Diable. O resto, são conversas para se ter no aconchego da nossa rua, com 3 pedras de gelo.

Gostar de Cicuta (2) (ii)

"you´ll go your way, I´ll go your way too".
Poema de Leonard Cohen citado por Miguel Esteves Cardoso como a resposta para a eterna pergunta "o que as mulheres querem".
É aprender, meus senhores, aprender...

Gostar de Cicuta (2)

“Desde os 5 anos os portugueses já são mestres em ser lamechas. O jogo amoroso português é muito complexo e muito interessante, há muita estratégia e muito saber com muita jogada mas com acessos torrenciais de sinceridade. Muita da perícia vem em mostrar o que se sente.”
Miguel Esteves Cardoso, ontem, na RTP/1

terça-feira, dezembro 12, 2006

Porque um cavalheiro é sempre um cavalheiro (e já quase não os há)

Obrigada Paulo, pela honrosa menção ao Mel, nas escolhas para melhor blogue individual.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Como um corredor de BUS para emoções que tenham de ser vividas em marcha de urgência.

Wish list Mel com Cicuta Natal 2006

(i) 1 Caçadeira de canos serrados (carregada);
(ii) 1 Moca com pregos (afiados e com ferrugem);
(iii) 50 cápsulas de cicuta (com monograma gravado);
(iv) 1 boneco de vudu (com kit de alfinetes em prata).

Seguindo a tradição filantropa desta casa os presentes listados supra serão fruídos por terceiros e sempre em exclusivo benefício da comunidade.

Boas festas.

Foi roubada e a única coisa que levaram foi uma que ela já não se lembrava que tinha. Curiosamente, dali em diante, passou a fazer-lhe falta.

Estava farta de faits divers mas não se importava de viver um fait d' hiver como deve de ser. Deve ser um effet d'hiver.

Just talk to the hand, will you?

Na jukebox mental


Um recado para o Argumentista, de uma miúda que até nem gosta muito de guitarras eléctricas.
Chispa(!) que já era tempo de alguém perceber que não se pode jogar Tetris com peças que não encaixam umas nas outras.
Obrigada.

Ela achava que podia sempre encolher os ombros e culpar o acaso. Cedo percebeu que toda aquela história de amor tinha mais de ocaso.

Momento "Sim, coração" da semana (3)

O Argumentista até pode escolher a história e os personagens. Mas brincar com a banda sonora já me parece um excesso.

Momento "Sim, coração" da semana (2)

Momento "Sim, coração" da semana



Sr. Dagoberto, importa-se que eu vá acabar os brócolos para a sua mesa?

domingo, dezembro 10, 2006




Há sitios que nos confortam a alma. Há outros onde a deixamos ficar. À espera que o mar a leve e no-la devolva despida.
Esta tarde, sem vento, ou brisa sequer, a areia fria do Guincho e um mar opaco, cinzento. Como ela: a alma lá deixada que fomos visitar.

Na jukebox mental

Ouve-se uma dedicatória sem link. Porque mesmo os de nós que, por vezes, parecem feitos de pedra, precisam da solidez que só alguns são capazes de transmitir. Esses que estarão sempre sentados à nossa direita na vida.

"Honey you are a rock
Upon which I stand
And I come here to talk
I hope you understand(...)"

Brunch with a view


A vida, em si mesma, não ajuda nada. A existência arrasta-se pesada e espinhosa. O caminho adivinha-se sinuoso e pejado de obstáculos. Mas o sol brilhou reflectido num rio espelhado. E isso foi o suficiente para que duas míudas atormentadas tenham percebido (entre torradas e bagels) que, enquanto não dependessem de mais nada além da força de cada uma, estariam protegidas das maldades do mundo.

O Delidelux serve uns brunchs simpáticos com o Tejo adormecido aos pés de quem por lá passe.

sábado, dezembro 09, 2006

Caderno imobiliário

Trespassa-se existência.
Estado: a precisar de obras.

Localização: privilegiada.
Edificação: de charme.





Às 15:30 saía de casa, munida de Visa, livro de cheques e cartões de débito, para encetar a árdua tarefa das compras de Natal.
Às 15:34 aproximava-me da entrada para o parque de estacionamento das Amoreiras, onde uma impressionante fila removeu qualquer mácula de espírito natalício desta alma atormentada.
Às 15:34 e alguns segundos invertia a marcha.
Pouco mais de uma hora passada estava a ser agredida por um vento musculado e árido, carregado de sal. E percebi que alguns de nós não estão preparados para as alegrias e nobres sentimentos natalícios. Não ainda.

quarta-feira, dezembro 06, 2006


Tiziano [ The Three Ages of Man, 1514]
National Gallery, edinburgh, Scotland



Desconfio sempre dos que escondem na aparente abnegação a busca da própria redenção. Um bocadinho como olhar nos olhos do outro à procura da imagem reflectida do próprio umbigo. E depois elogiá-lo.

Com dedicatória [Baby sitting mode]


Caravaggio, [pormenor do The Fortune Teller, 1596-97 , Oil on canvas]
Musée du Louvre, Paris

O importante não é que nos leiam na mão o destino. É que nos segurem a mão quando tem de ser.

A propósito


Rembrandt van Rijn [The Jewish Bride, 1667]
Rijksmuseum, Amsterdam

Saía de casa, rotineiramente, quando viu passar a vida, como um autocarro atrasado. Correu para apanhar, mas já não foi a tempo. Decidiu não esperar pela próxima.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Sablon





Hoje, porque o dia amanheceu um bocadinho para o a-meter-nojo, lembrei-me das saudades que tenho desta praça e do chocolate quente a poucos metros dali.

Na jukebox mental

Oakeshott's à parte, a razão pela qual me descobri uma conservadora toca ali em cima, à direita (naturalmente).
Porque ontem à noite alguém se lembrou de me avisar que estava uma lua linda.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Conversas paralelas (ouvido na rua)

"- Antes de casar saía todas as noites e bebia muito álcool. Agora compro livros."

Tá bem.

Bigamia

Mantinha uma vida dupla. De dia, no frio asséptico do escritório, teclava contratos e memorandos na rotineira insipidez do PC. À noite, no conforto tépido que se respirava por detrás daqueles cortinados pesados, vertia no MAC as suas entranhas. Acordava com sentimentos de culpa.

A humanidade na perspectiva do utilizador

Há seres humanos que bem podemos mandar para o lixo, com desapego, sem que nos detenhamos a adivinhar-lhes outras potencialidades.
Já outros, por razões várias, arrastamos até a "reciclagem" onde jazem, esquecidos, para que, um dia - a pretexto de procurar um outro ficheiro erradamente apagado - possamos redescobri-lo e restaurar a sua utilidade.

Na jukebox mental

Yo la Tengo, de regresso de um concerto carregado de mixed feelings.
"Take Care" é o que normalmente dizemos quando vemos partir alguém de quem gostamos.
Quando essa pessoa já partiu, ou nunca esteve, deviámos ser capazes de lho dizer na mesma. Ou, ao menos, pensar nisso.

Technorati emocional

Um cretino é sempre um cretino. Mesmo que tenha um sobrenome composto.

sábado, dezembro 02, 2006

Infamous


Não nego que Philip Seymour Hoffman tenha sido melhor Truman Capote do que Toby Jones. Muito melhor. Não posso tão pouco ignorar o facto de grande parte do meu fascínio por Capote enquanto pedaço da criação vir da ironia atroz que lhe era reconhecida. Hoje, no profundo breu do cinema, consegui guardar no moleskine uns gatafunhos com uma frase atribuída a Capote na qual, por razões óbvias, me reconheci.

When you are tinny you have to be tough. This world is not nice to little things.

E isto, mais ou menos responde a algumas perguntas que têm sido feitas, e a outras que ninguém teve coragem para fazer. Sobre Truman Capote, mas não apenas.