Ontem havia uma fuga de gás no nosso sítio do costume. Logo à entrada, e ainda a caminho daquela mesa do canto, éramos atingidos por uma verdadeira nuvem de alheamento. Sentámo-nos à mesma. Na mesa ao lado, os convivas de todos os outros dias. Já em conversa corrida, como se da sala comum se tratasse (faz-me sempre lembrar os clubes de empresários nos filmes ingleses), percebemos todos que o cheiro a gás se agravara e começámos as reclamações ao anfitrião ainda mal disposto pela vitória da Itália alguns minutos antes. Entre a dança do armário, das cadeiras e das bilhas de gás trocadas, os presentes, que, noutras circunstâncias e lugares, teriam escolhido sair ou mudar de sítio, preferiram pedir mais bebidas enquanto discutiam os epitáfios que, depois daquela noite de gaseamento, caberiam em sorte a cada um. Pela primeira noite, em muitos anos, o serão foi de porta aberta.
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