Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

« Home | Cá dentro e lá fora é Novembro. A única coisa erra... » | Para colar na porta do frigorífico » | E o Verão, chega quando? » | Paris » | Ainda sobre a suficiência (e, em larga medida, sob... » | Gravity's rainbow » | Antídoto para os sintomas causados por manifestaçõ... » | 4 menos 1 » | Não há o menor dos perigos de este não ser o melho... » | Ela era tão snob que, quando a convidaram para pas... »

13 de junho de 1888 - Nasce em Lisboa, às 3 horas da tarde, Fernando António Nogueira Pessoa.

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não- significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
O LIVRO DO DESASSOSSEGO 29-03-1930
A propósito do aniversário de Pessoa, ontem, e de outras conversas mundanas, um excerto do único livro que não sai daquela cabeceira atormentada e que responde às perguntas que não foram feitas mas tão-só pensadas, no sono, na vigília semi-desperta.

Abençoados Deuses por teres nascido Português.
Enviar um comentário