"- Acordei de madrugada a proferir palavras que ao princípio não compreendi - disse o poeta.
- Essas palavras eram um poema. Senti que tinha cometido um pecado, talvez aquele que o Espírito não perdoa.
- Aquele que compartilhamos agora - murmurou o Rei.
- O de termos conhecido a Beleza, que é um dom vedado aos homens. Cabe-nos expiá-lo.Dei-te um espelho e uma máscara de ouro; tenho aqui a terceira prenda, que é a última.
Na mão direita pôs-lhe uma adaga.
Do poeta sabemos que se matou, quando saiu do palácio; do Rei que é mendigo e corre os caminhos da Irlanda, seu reino de outrora, sem ter voltado a repetir o poema.”
O Espelho e a Máscara, in O Livro de Areia, de Jorge Luís Borges.
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