Cenas da vida não conjugal II
"- A filha do Zé Maria, aquela que se droga, agora anda grávida! E a mãe, que é alcoólica, vai ser internada...!"
Estava ainda acabrunhada por ter acordado há pouco, e, na tabacaria do Senhor Eduardo, esperava que me vendessem a Vogue enquanto ouvia (dentro daquele escafandro onde resido pela manhã) a conversa de duas habitantes do meu tradicional bairro Lisboeta. Achei ingenuamente que toda aquela enumeração de fatalidades seria demasiado pesada para uma só família e dei por mim a ter pena do Zé Maria, da filha e da mulher, cujas vidas seriam facilmente reconduzidas a um argumento reles de uma telenovela da TVI.
Não foram necessários mais de dois minutos enquanto passava os olhos pela bancada de revistas para perceber que o Zé Maria, a prole e a cara-metade, eram, de facto, três personagens da novela que agora ocupa o horário nobre da TVI. E aquela mulher falava deles com a intimidade com que se fala dos que nos são próximos. E, provavelmente, com toda a legitimidade, porque passa o serão com eles.
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