Ontem à noite, no Teatro Nacional Dona Maria II, deixei-me enredar por "Medeia", uma recriação poética da tragédia de Eurípides, de Sophia de Mello Breyner Andresen.
"Medeia, princesa da Cólquida (hoje Geórgia), traiu o seu País e o seu Pai, entregando o Velo de Ouro a Jasão, o herói grego comandante dos Argonautas. Segue-o apaixonadamente até à Grécia onde vive como exilada durante dez anos, “em tudo se submetendo à vontade do marido” e às leis e costumes de um país estrangeiro. A acção decorre em Corinto, quando Jasão a repudia para se tornar genro do rei Creonte. Medeia é expulsa com os dois filhos. Fica reduzida à condição de apátrida e ela mesma se considera como um “despojo” trazido de uma terra bárbara. O ultraje sofrido por ela, é também um ultraje aos deuses antigos, perante os quais Jasão fez juramentos que agora quebra. Medeia, herdeira da ordem antiga, jura vingá-la destruindo a nova ordem. Destrói a casa real de Corinto, matando o rei e sua filha e destrói Jasão, matando os filhos de ambos. Para “espanto” dos mortais só é castigada pelo seu próprio sofrimento. O Sol, pai de seu pai, envia-lhe um carro que lhe permite a fuga gloriosa…"
A peça é arrebatadora, as interpretações são francamente boas (as femininas melhores), e o texto perturbador na sua crueza.
Saí de lá um bocadinho atormentada, convencida que Medeia retratava, no essencial, o pior de nós, Mulheres.
Não ajudou muito quando, esta manhã, um amigo estudioso dessas coisas me disse que Medeia seria o correspondente mitológico do signo escorpião.
Permalink