Tinha esquecido daquele dia. Não por razões ponderosas ou pressas ou outras prioridades racionalizadas e estabelecidas, mas pura e simplesmente porque aqueles dias de outros tinham deixado de ser os seus. Em tempos idos teria corrido a celebrar ou, na pior das hipóteses (tantas vezes verificada) feito um esforço por não lembrar o que significava — ainda que a verificação do inegável ficasse a ecoar-lhe na cabeça como os passos metálicos no chão de mármore de um claustro vazio de gente.
Desta vez nem um sussurro, nem o vociferar quente de uma memória distante e vingativa de ter sido abandonada. Nem, no dia seguinte, o intrusivo sintoma que se segue ao esforço involuntário mas hercúleo que o querer faz tantas vezes para afastar as tristes vontades renegadas. Desta vez, nada, além do silêncio de mim, da serenidade que antecede o rebentar de uma mina relapsamente deixada esquecer de uma guerra de há muitos anos que atinge invariavelmente quem dela não tenha tomado parte.*
*por ocasião do aniversário do autor do Desassossego.
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