Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

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Há algum tempo entrei numa Loja do Cidadão para renovar o Bilhete de Identidade. A fila era imensa. Dirigi-me à maquineta que cospe senhas e percebi que à minha frente havia 76 pessoas. Estava muito calor naquela cave adaptada ao serviço público.
Só nos primeiros 15 minutos atendi cerca de 10 telefonemas, e ainda consegui discutir o clausulado de um contrato que estava em negociação, enquanto tentava equilibrar o telemóvel, a mala e a documentação que deveria servir de base à conversa telefónica. Quando acabaram as conversas fui sentar-me no lugar que uma velhota tinha acabo de desocupar.
Ao meu lado um Senhor com mais ou menos 75 anos. Olhou para mim e sorriu, e eu sorri de volta. O telefone voltou a tocar. No escritório, probelmas de última hora reclamavam um regresso em marcha de urgência. Como não podia desistir do BI, tentei suprir a falta da presença física com mais 4956 telefonemas. Ao fim de 10 minutos de total alucinação o tal velhote dirigiu-se a mim:
-A menina quer trocar a sua senha comigo? eu sou já dois números a seguir a este.
Nem quis acreditar que, nos dias de hoje, alguém se predispusesse a esperar mais de 3 horas para facilitar a vida a outra pessoa. Agradeci imenso mas disse-lhe que era um disparate, que ele ia esperar imenso por minha causa, que estava calor ali e que não havia razão nenhuma para me deixar passar à frente.
A resposta esmagou-me:
- A menina está com um ar muito aflito e aterefado, e vê-se que não lhe dá jeito nenhum estar aqui a perder tempo. Eu não tenho nada que fazer quando sair daqui. A minha mulher morreu há uma semana, por isso venho alterar o meu estado civil no BI. Desde que ela se foi deixei de ter vontade de ir para casa e deixei de ter com quem ir para outros lados. Pelo menos aqui vou vendo passar a vida das outras pessoas enquanto espero que me levem para junto da minha que já passou.
Mesmo sem acreditar no amor incondicional, não consegui conter as lágrimas que me inundavam os olhos. Esta foi a declaração de amor mais bonita que já vi fazer. Afinal, o que é amar senão precisar do outro para encontrar o caminho, qualquer que seja?... Depois deste simpático velho que me poupou 3 horas num dia infernal decidi que não quero do amor nada menos que isto: alguém que encontre em Nós mais vontade de viver a sua vida.

Sem dúvida, a mais bonita declaração de amor!
Bolas... vem uma pessoa descobrir um blog novo e sai daqui com lágrimas nos olhos. Obrigado.
Será laura que aquele amor que vives alguma vez te deu um momento assim?
Será que alguma vez alguma de nós o irá sentir?
mas será tambem que a dita senhora alguma vez sentiu esse amor?
Sera que não nos apercebemos das coisas só depois de as perdermos?
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