Algumas conversas, tidas com três homens diferentes, um que conheço menos, outro que é artista, romântico, marialva incurável do mal de amor, e um terceiro, que tem a forma de amar mais absolutamente crua que conheci, levaram-me a concluir que, no amor, não somos apenas homens e mulheres, somos jogadores. E comportamo-nos como tal.
No que respeita às relações, dividimo-nos em subtipos facilmente identificáveis com a fauna que podemos encontrar numa incursão a um Casino:
(i) Os que entram, observam, deambulam, mas não jogam, não jogarão nunca por medo de vir a render-se ao vício ou de perder o pouco que têm. Estes que, nas relações, se conformam com os encantos dos gostares cómodos, sem grandes turbilhões de sentimentos, como um banho morno, onde não se está bem nem mal, vai-se estando.
(ii) Os que ali vão esporadicamente, não sem uma pontinha de auto-recriminação, olhando em volta, a medo, que levam o dinheiro para as apostas contado e nunca ultrapassam esse limite. São os que se contentam com uma relação simples, com um gostar consentido mas pouco sentido, mas que olham com admiração e ar de cobiça gulosa para os mais corajosos (e inconscientes que eles), aqueles que os primeiros repudiam e rotulam de aventureiros.
(iii) Finalmente, os viciados, que não conseguem obrigar-se a viver longe da adrenalina das apostas. Que jogam alto e se abandonam depositando em cima mesa tudo o que têm. emocionam-se com o ritual, desde a entrada na sala de jogo até que sentem a suavidade lasciva do toque no pano verde. Não gostam de banhos mornos, nem se deixam atrair por rendimentos garantidos, preferem enfrentar à partida o frio agressivo da água gelada a viver na antecipação de sentir-se arrefecer por dentro.
Não jogo outro jogo que não este, dos aventureiros, nem me parece, sequer, que conseguisse fazê-lo de outra forma, mais comedida, ou resguardada.
Amar alguém é um investimento cuja eventual rentabilidade será tanto maior quanto o capital investido e o risco suportado. No amor, enquanto jogo, aprecio os que, como eu, sao jogadores patológicos, que se rendem ao cheiro que emana das cartas manuseadas por um croupier habilidoso e se deixam hipnotizar pelos sons artificiosos de um salão que, a cada regresso, abre os braços para receber quem chega, e, a cada vez, tenta a sua sorte.
Jogo compulsiva e imprudentemente, mas afasto-me de mesas que descubro viciadas e não negoceio com agiotas. Não consinto que outros, que não eu, possam lucrar com meus vícios.