Adquira habitação própria. Faça dela uma casa de catálogo. Sem mais resquícios de cor ou humanidade do que algumas fotografias dispersas e lombadas de (muitos) livros. Acorde com a empregada doméstica um horário que permita o absoluto desencontro. Trabalhe de porta fechada num gabinete só seu. Caminhe, de manhã, para o escritório, e, ao fim do dia, para casa, na exclusiva companhia do I-pod. Encontre os amigos que escolheu. Volte para a casa. O seu silêncio, os seus discos, os seus livros e o comando da sua televisão sobre o qual é exercida a total ditadura do aquário (mute e figuras humanas só para permitir ilusão de movimento). De caminho, vá conhecendo crápulas, idiotas, gentinha, casanovas de bairro, e mulherocas bastante insípidas. Regresse aos seus livros, discos e cadeiras confortáveis. Escolha mobília que não lembra a mais ninguém. Resplandeça na (quase) total ausência de cor. Ainda acha que precisa de gente? Eu, só da minha, e da outra que não conseguir evitar.
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Nós vivemos, nós morremos... E a morte não acaba com isto.
Posted by Licantropo | 11:26 da tarde
Nós vivemos, nós morremos... E a morte não acaba com isto.
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