Mel Com Cicuta 

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.

 

William Hazlitt  
      

   

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Posologia

Episódios recentes chamaram a minha atenção para uma nova geração de medicamentos. Começa a ser comum a prescrição de fármacos “de toma única”. Para quem, como eu, se perde constantemente no verdadeiro labirinto de anti-inflamatórios (de 6 em 6 horas), antibióticos (de 8 em 8 horas), mais os antipiréticos (de 4 em 4) — acabando, invariavelmente por passar o dia a correr para tentar compensar as tomas perdidas, esquecidas ou (quase) intencionalmente falhadas por me ter deixado dormir durante a noite— esta nova modalidade aparece como uma significativa evolução civilizacional.
Evolução esta que seria, muito pertinentemente, extensiva às relações humanas. Ao longo da nossa jornada enquanto obras do Criador cruzamo-nos com todo o tipo de pessoas. Muitas delas não tornamos a ver por mera e normal decorrência das circunstâncias, outras voltam a cruzar-se no nosso caminho sem que isso dependa da nossa vontade, e, nos piores casos, sem que o possamos evitar.
Alguns seres humanos com quem me cruzei são seres humanos de toma única: aparecem por uma qualquer razão, fazem sentido naquele momento, têm efeitos na nossa vida, mas não há qualquer razão para a constância, a permanência ou reiteração da sua presença. Trazem demasiados efeitos secundários e a insistência no consumo desrespeitando as contra-indicações poderá acarretar doenças de origem medicamentosa. Humanidade de toma única por oposição àqueles cuja eficácia depende, como numa qualquer pílula anticoncepcional, da disciplinada noção de que precisamos deles todos os dias.