Nos quotidianos exercícios de linguagem servimo-nos, com frequência, da enumeração. Por minúcia, método organizativo, ou obsessão-compulsão, enunciamos uma a uma as partes de um todo. Não é, todavia, raro que se veja um autor servir-se do primeiro número sem que este venha, depois, a ser secundado por elementos adicionais. Quantas vezes vemos um “primeiro” fragmento discursivo que — como aqueles que insistem nos irritantes beijinhos siameses na face (que obrigam ao dispensável e pouco prático jogo de narizes) — fica ali, pendurado e sem par?
Na maioria dos casos creio que o autor achava, genuinamente, que o primeiro corpo seria seguido, pelo menos, de um segundo e este, eventualmente, de um terceiro (e por aí fora). Mais do que de matemática, uma questão de optimismo. Afinal, quando falamos do nosso primeiro amor, quantos de nós tem algo mais definitivo ou inilidível do que a mera esperança que tudo aquilo se vá repetir (uma ou mais vezes)?
Permalink