Ao contrário do que possa parecer, este blogue não está morto. Só vagamente enlouquecido e esquecido de si mesmo numa pilha de papeis que gritam marcha de urgência e reclamam atenções exclusivas. Ainda assim, no meio do ritmo imposto a toque de caixa pela furiosa clientela institucional — acolhendo já com alguma simpatia a insónia patológica (que não propicia o descanso mas é amiga da incondicional produtividade )— a carcaça que alberga os despojos de um cérebro em tempos ágil regateou com os demónios o alargamento dos dias à exacta medida do tempo certo para (1) no Sábado, dia 23, ir ao CCB ouvir Phillip Glass e ter a oportunidade de lhe apertar a mesma mão que passou uma hora e meia a fazer ecoar 3 singelas notas; (2) no Domingo, dia 24, ir à Quinta da Piedade e, numa maravilhosa tarde de um verão ainda fresco, ouvir Stephen Kovacevich executar primorosamente (i) a Partita nº 4, em Ré Maior, BWV 828, de Bach, (ii) a Sonata para Piano nº 30, em Mi Maior, op. 109, de Beethoven e (iii) a Sonata para Piano nº 22, em Lá Maior, D. 959. de Schubert, ao mesmo tempo que os pássaros cantavam em torno da clarabóia que acolhia o pianista debaixo da qual um piano de cauda parecia não mais do que suspenso sobre a serra de Sintra; (3) na Segunda-feira, ir cumprimentar o novo Museu de Lisboa.
Tudo isto ao mesmo tempo que se fez saber terem nascido novas convicções e desalentos, novas formulações das mesmas vontades e manifestações distintas de quereres afinal, sempre iguais; reclinados numa cadeira, fazendo listas mentais de sensações relevantes e destinatários qualificados, saboreando um bom vinho e as cumplicidades amadurecidas em meias-pipas de carvalho novo português que apresentam, a quem delas possa desfrutar, uma cor intensa rubi, aromas de frutos encarnados combinados com aromas de madeira e uma sensação gustativa cheia, robusta e apimentada.
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