Aconteciam sempre coisas novas, não necessariamente boas. As (raras mas não pouco importantes) coisas boas eram mitigadas por uma qualquer reminiscência amarga, pela exaustão trazida da aspereza do caminho. A todos os momentos chegavam e partiam pessoas e elas iam assistindo àquelas chegadas e partidas e permanências como se estivessem de fora da sua própria vida. Jantavam e tinham longas conversas e desconstruiam a realidade como se aquilo que cada uma sentia na pele lhes estivesse mais distante do que na verdade estava. E assim sobreviviam. Pela relativização, pela racionalidade, e pelas (poucas mas importantes) coisas boas que lhes traziam a solidez de espírito.
Não fugiam aos embates e tinham um jeito muito próprio de curar as mazelas de cada uma e de todas as outras aplicando uma lógica de compensações impossível de perceber para quem estivesse de fora mas que lhes era absolutamente indispensável.
Sabiam exactamente o que queriam, o que podiam ou não fazer, o que lhes era negado. Desrespeitavam a impossibilidade com ironia e olhavam o infortúnio de soslaio e a serenidade (que lhes era negada) com um suspiro.
Aconteciam sempre coisas novas, não necessariamente boas: eram vidas interessantes que a serenidade, felizmente, arruinou.
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