A mãe dizia desde sempre que, se fosse demasiado fácil, não era indicado para ela. Uma amiga chegada contrapunha, afirmando que, se fosse demasiado difícil, era porque não era para ser. Anos depois, vivendo sempre guiada pela sensatez decana da primeira, percebeu que há situações nas quais a dificuldade simplesmente não se justifica. Não vale o esforço, o desgaste, o dispêndio de energias. As pessoas que dão demasiado trabalho e requerem uma significativa e descompensada alocação de recursos não se coadunam com o merecimento, critério essencial para aferição de entradas para dentro da soleira da porta. Se, em nossa casa, falta alguém que merecia lá estar, devemos ter a humildade de procurá-lo convidando-o a entrar; se estiver lá alguém a mais (por falta de espaço ou manifestação excessiva da sua própria existência) é indicar o caminho da porta. Todos cometemos erros, mas não somos obrigados a levar uma vida curvados e em flagelação a pagar pelos soundbytes relacionais que revistas femininas alardeiam para que alguns vivam um bocadinho melhor na frustração das respectivas agruras. No mais, aconselha-se apenas que as pessoas se limitem a praticar desportos para os quais sejam minimamente dotadas. Ver um tenista de domingo desafiar Federer para “bater umas bolas” não é um acto de coragem, é apenas uma manifestação de como o ser humano, no seu umbiguismo envaidecido, é capaz de ser ilimitadamente patético. A velocidade dos hard courts não é para todos. Alguns nasceram para a terra batida das emoções.
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