Homens e mulheres são, realmente espelhos de sentimentos. Uma mesma realidade origina construções tão distintas, que o encontro de vontades se torna não apenas quase-impossível, mas sobretudo exasperante na tentativa.
As mulheres sentem uma incontrolável (e desesperada) necessidade de reconduzir tudo a afectos.
Os homens sentem necessidade de reconduzir tudo o que são afectos a outra coisa que lhes interesse mais.
As mulheres acham que tudo o que se demonstra numa relação a dois decorre de afectos.
Os homens acham que, se demonstram afecto numa relação, tem necessariamente que decorrer dali alguma coisa que valha a pena.
Conclusão: As mulheres são, por definição, seres afectados. Os homens não se deixam afectar por isso...
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Andou muito. Encontrou seres humanos"sim" e "não". Gente sorriso e gente sisuda. Poucas meio termo. Todas chamaram a sua atenção e registaram a sua passagem conforme as suas características. Aprendeu o bastante, mas não o suficiente, com cada uma delas. Foi avaliando os detalhes e classificando as diferenças num exercício de vida, que não pode evitar. De uns tempos para cá, tem reflectido sobre um aspecto que lhe escapou nos pormenores...
É o que se refere ao amor. Existem pessoas que amam e outras que se deixam amar. Parece trocadilho ou, então, inversão de ideias. Assegura que não se trata de antítese ou de metáfora. É a realidade constante, e pouco percebida, das relações afectivas do ser humano.
Os que amam destacam-se dos que se deixam amar por várias particularidades. Tentar enumerá-las é encarrilar por um misterioso universo e, como não possui o mapa, fica demasiado complicado. Mas sempre é oportuno assinalar alguns pormenores para esclarecer aos que, também, chegarem a essa conclusão. Quem ama acende a luz e mostra o rosto; quem se deixa amar fica na penumbra e disfarça a fisionomia. Quem ama abre os braços e abre a guarda; quem se deixa amar esquiva-se e esconde-se detrás de armaduras. Quem ama não foge à luta e encara o perigo; quem se deixa amar nunca entra em zangas e nem omite opiniões.
Quem ama fala, canta, grita e gesticula; quem se deixa amar faz silêncio entre um murmúrio e outro e move-se uma como sombra. Quem ama adivinha; quem se deixa amar omite. Quem ama faz "das tripas, coração" e desempenha o papel com o melhor de si; quem se deixa amar assiste do camarote e, raras vezes, aplaude. Entre amar e deixar-se amar está a incompreensão das relações amorosas. Um oferece e o outro recebe. Relação de troca? Pode ser! Mas é uma troca desleal e injusta. O que se vê no quotidiano são desencontros e mal entendidos. De um lado aquele que ama e do outro o que se deixa amar e no meio um vazio de fazer medo. Solidão a dois, sem dúvida.
E... sempre aquele que ama paga a despesa da festa. O que se deixou amar sai ileso e deita a cabeça no travesseiro para mais uma noite de descanso. Afinal, amanhã encontrará alguém que o ame e, então, deixar-se-á amar do alto da sua indiferença e pretensa imunidade. Aquele que amou, continuará amando.
Posted by Álvaro Lins | 4:52 da tarde