Nas suas mãos firmes, a pasta escondia segredos. O cabelo, bem arranjado, disfarçava a juventude e a sensualidade latente. A roupa cortada com cuidado era séria demais para a sua idade. O olhar demasiado duro e o andar resoluto fazia desviar os outros transeuntes. Indiferente, esbarrou na criança distraída, sem lhe lançar um olhar Seguia decidida no seu caminho. Nada a desviava. Toda ela lançava pelos poros, um desinteresse total. Nenhuma luz, montra, flores, chamava a sua atenção. Nada interferia no rumo traçado, quem sabe, para o escritório, ver algum cliente importante. Olhava o relógio e acelerava ainda mais o passo. Que segredos se escondiam naquela pasta? Que pensamentos se cruzavam por detrás daqueles cabelos, disfarçando beleza, ou infantilidade? E qual o motivo daquele olhar aparentemente tão duro? Escondia para si própria a ternura, a criança escondida. De repente pára uns instantes, corpo erecto. Os olhos secos. Sem mexer o pescoço, sem tirar os olhos de um imenso ponto no horizonte infinito, levantou o braço e tirou os óculos. Virou-se. Em passos leves, doces, foi até à montra. O olhar ficou terno. Os dedos soltaram-se. A pasta caiu ao chão com os seus segredos. As mãos suaves, os dedos elegantes esqueceram protocolos sociais e apoiaram-se no vidro sujo. A face ficou colada à montra. No interior, as cores berrantes, os sorrisos doces, respondiam a desejos ocultos. Balançava-se languidamente. As mãos transpiradas sujavam o vidro. Ela, infantilizada, olhava os pequenos rostos pintados, as saias rendadas, os pequeninos braços de pano, as cores irresistíveis. Tentou subir ao degrau para conseguir ver melhor. O sapato italiano ficou sem salto. Descalça, tentou segurar-se. O seu corpo fez força no vidro da montra. O vidro partiu-se e ela caiu no meio das bonecas. Esqueceu o que tinha que fazer e brincou o dia inteiro, ou toda a sua vida?
Que pensamentos se cruzavam por detrás daqueles cabelos, disfarçando beleza, ou infantilidade? E qual o motivo daquele olhar aparentemente tão duro? Escondia para si própria a ternura, a criança escondida. De repente pára uns instantes, corpo erecto. Os olhos secos. Sem mexer o pescoço, sem tirar os olhos de um imenso ponto no horizonte infinito, levantou o braço e tirou os óculos. Virou-se. Em passos leves, doces, foi até à montra. O olhar ficou terno. Os dedos soltaram-se. A pasta caiu ao chão com os seus segredos. As mãos suaves, os dedos elegantes esqueceram protocolos sociais e apoiaram-se no vidro sujo. A face ficou colada à montra. No interior, as cores berrantes, os sorrisos doces, respondiam a desejos ocultos. Balançava-se languidamente. As mãos transpiradas sujavam o vidro. Ela, infantilizada, olhava os pequenos rostos pintados, as saias rendadas, os pequeninos braços de pano, as cores irresistíveis.
Tentou subir ao degrau para conseguir ver melhor. O sapato italiano ficou sem salto. Descalça, tentou segurar-se. O seu corpo fez força no vidro da montra. O vidro partiu-se e ela caiu no meio das bonecas. Esqueceu o que tinha que fazer e brincou o dia inteiro, ou toda a sua vida?
Posted by Álvaro Lins | 4:48 da tarde