Mel Com Cicuta Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room.
William Hazlitt
|
« Home | Descobri que não sei ser feliz... Sou demasiado pr... »
Penso em mim. Penso em ti. Penso em nós. Penso na presença sempre ausente e na ausência sempre presente. Coisas do sentimento que a saudade, professora do hoje, traz à lembrança no constante do actual. Recuando no tempo, rememoro as nossas vidas juntas, naquele exercício de ser feliz de que éramos exímios participantes.
Passem-se dias, horas, meses, anos... amadureçam as ilusões da vida..., e não envelhecem as recordações. Elas são jovens perenes, a despejar lampejos de beleza nesse tempo de hoje, já cansado do amanhã.
E assim, dos momentos que ficaram, surge o recordar, que é trazer de volta ao coração. Como esquecer as descobertas mútuas que fizemos, as conversas a meia-voz, os abraços (principalmente, o primeiro que demos) na dança do quotidiano, as alegrias das manhãs, as mãos dadas e os silêncios compartidos?
Sem palavras, entendíamo-nos. Cumplicidade total. Linguagem dos afectos, procurada em vão pela maioria dos mortais. Tínhamos o nosso próprio ritual e nele nos fartávamos de emoções numa mistura de pele, olfacto, tacto.
Chorámos com infantilidade ao assistirmos a um filme que falava em volta ao passado e rimos das nossas roupas molhadas, num banho de chuva torrencial, ao sair do cinema. Tudo connosco era conivência e partilha. Das caminhadas à beira-mar nos dias quentes de verão até às conversas aquecidas pelo fogão a lenha nas noites de Inverno
De entre as memórias que passo a limpo, uma se destaca: a tua insistência enfática para que eu exercitasse o mister de escrever. Escrevo por ti e para ti, porque talento é mera decorrência da motivação. Estás nas entrelinhas. Por trás de todo o aprendiz de escrevinhador existe quem o inspira. Aliás, devo-te muitas outras coisas. Desnecessário enumerá-las. Sabemos bem quantas e tantas são.
E foi preciso perder-te para encontrar o significado de cada gesto impensado e inconsequente que cometi.
Tentei fugir a todas as lembranças, mas é inútil resistir ao inevitável. Desisto. Contra o óbvio não há resistência. E, por mais irónico que possa parecer, encontro na tua ausência a presença do mais real.
Afinal, encontro como o nosso é um privilégio a ser conservado em redoma de cristal porque é transparente e nunca deixa de existir, como escrevi num texto adivinhado, mas pobre de estilo. Há encontros que não terminam com a distância, que não acabam com o tempo...
Sempre é oportuno passar a limpo “as marcas da vida”. Desculpa o rascunho!
Posted by Álvaro Lins | 5:55 da tarde