Vivemos anos a acreditar em verdades que só nós conhecemos, tendo-as por incontornáveis, ainda que não as querendo.
Assim foi comigo até perceber que a normalidade nos afectos não passa nunca por interpretá-los para conseguirmos vivê-los. Quando têm de ser moldados, aconchegados, espremidos ou esticados é porque não existem na medida em que deviam, e não podem nem devem ser vividos.
Viver afectos que não são criados para nós é como calçar sapatos um tamanho abaixo: podem ser lindos, dar pouco trabalho, causar inveja em quem passa, mas ao fim de algum tempo tornam-se tão incómodos que só nos queremos livrar deles em troca de um par de confortáveis pantufas emocionais.
Devia haver alfaiates de afectos, que os fizessem á medida...
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E esse momento aconteceu após um sorriso matinal. Sem rancores, ódios ou discussões. Ele partiu, mas deixou-lhe coisas dele, muito pessoais, entre as quais:
Ela passou a compreender que não se pode perder aquilo que nunca se possui. Também entendeu que é difícil atender o pedido de um homem, quando pede que lhe adivinhem os sonhos. É mais fácil depois descodificar o pesadelo diz ela agora.
Também ficou a saber que no jogo do des(afectos)não se ganha nem se perde. Outra coisa que entendeu, é que é impossível o equilíbrio numa relação onde um desenha destinos e o outro vai sorrindo em longos e repetitivos silêncios, pois o afecto é sempre a mão que se toca eliminando distâncias e e não o delinear percursos a milímetro.
Hoje, passados anos, continua a sua rotina de fazer compras na loja da esquina (até porque é a mais próxima), mas perdeu a mania de desenhar o destino..., pensa ela.
Posted by Álvaro Lins | 4:05 da tarde