António e Mariana conheceram-se no lançamento de um livro de um amigo comum. Cedo identificaram interesses comuns e se uniram numa longa conversa que terminou com um jantar nessa mesma noite. Namoraram durante alguns meses, partilhando leituras, concertos e discussões políticas que fluíam noite dentro. Ao fim de algum tempo, perceberam que, apesar das afinidades, nunca seriam felizes juntos. O namoro acabou, procedeu-se à devolução dos livros e cds deixados na casa do outro, das roupas esquecidas na máquina de lavar. Decididos a evitar reencontros forçados e desconfortáveis dividiram a cidade ao meio, negociaram a custódia de livrarias e restaurantes. Cada um deles teria direito às livrarias mais próximas das respectivas casas e local de trabalho e a Fnac do Chiado — a preferida de ambos — seria alvo de tutela repartida cabendo a Mariana o turno de dia e a António o pós laboral. Tinham regulado o poder sobre Lisboa e evitaram-se, com sucesso, durante pouco mais de seis meses.
Esbarraram um no outro, por acaso, numa livraria em Paris — lutavam pelo único exemplar disponível de um Stendhal, que ele, como um cavalheiro, lhe cedeu — reconheceram, naqueles minutos, os traços que, a início, os aproximaram. E seguiram, separados, depois de assegurarem — seguindo com os dedos os trajectos solitários planeados, no mapa de cada um, para os próximos dias — que não se tornariam a cruzar.
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Posted by Isa | 12:17 da tarde
Posted by LAC | 12:23 da tarde
Parabéns por uma escrita cativante.
Posted by cristina ribeiro | 4:38 da tarde
Posted by redonda | 11:37 da tarde