Estava tão perturbado que não conseguia imaginar um castigo capaz de se equiparar à falta. Sentia a mente brumosa, a ira dissolvia as ideias, e isso aumentava a sua amargura, pois o senhor Frederico era um homem em quem a razão decidia sempre a conduta, e que desprezava a raça de primários que actuavam, como as bestas, por instinto e palpite em vez de por convicção. Mas desta vez, enquanto tirava a chave e, com dificuldade, porque a raiva lhe entorpecia os dedos, abria e empurrava a porta de casa, compreendeu que não podia agir serena, calculadamente, mas sim sobre os ditames da cólera, seguindo a inspiração do instante. Depois de fechar a porta, respirou fundo, procurando acalmar-se. Envergonhava-se que aqueles ingratos fossem reparar na magnitude da sua humilhação.
Mario Vargas Llosa, A tia Júlia e o Escrevedor
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