Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my
way across the room.
William Hazlitt
segunda-feira, setembro 17, 2007
O Mel mudou (-se)
Este blogue mudou de endereço. A bem da verdade, a gerência resolveu mudar-se a quem lhe acenou com a rápida e eficaz solução dos problemas técnicos que, a espaços, têm deflagrado nesta casa.
A partir de agora, Mel, Cicuta, Sapatos e You tubes de música correcta, aqui.
E ai dos senhores do Sapo que não nos tratem principescamente.
"(...) O aparecimento da vulgaridade costuma ser útil muitas vezes na vida: ela alivia as cordas demasiado tensas, atenua os sentimentos de presunção ou de falta de respeito próprio, lembrando-lhes o seu parentesco com eles.(...)"
Alguma das almas esclarecidas e caridosas que frequenta esta casa saberá explicar-me, muito devagarinho e como se eu tivesse 5 anos de idade, porque é que deixei de conseguir publicar you-tubes e o que é posso voltar a fazê-lo?
[Ela] – Boa tarde, estou a falar de (…) sou o cliente número(…) e tenho um processo de reparação em curso. Vieram cá já 3 equipas técnicas vossas, nos passados dias 22, 23 e 24 de Agosto e o problema persiste. [o call center] – Muito bem. E pode dizer-nos em que consiste? [Ela] – (resposta, extensa, cheia de termos técnicos relativos ao universo da televisão por cabo que nem nunca sonhara saber utilizar). [o call center] – Então vamos agendar uma nova visita, deve ser suficiente trocar a power box. [Ela] – mas já vieram cá 3 vezes, e já trocaram a power box em duas deles, depois trocaram toda a instalação interna (fios, tomadas e fichas) e, finalmente, substituíram a ligação externa na caixa que fica de fora do prédio. [o call center] - Então vamos agendar uma nova visita, para que o nosso técnico perceba o novo procedimento a desenvolver [Ela] – Ouça, eu já estive em casa 3 tardes (*rosna*), o vosso técnico já fez tudo o que podia ser feito dentro de casa (*espuma*), o problema, segundo indicações que os vossos próprios serviços me deram, é externo (*suspiro*). [o call center]- Então vamos agendar uma nova visita, com a equipa de exteriores. [Ela] – Se é uma equipa de exteriores não tem de agendar visita nenhuma, certo? tratem do que têm a tratar e depois informem-me para eu poder confirmar se houve melhoria no serviço (*pragueja*).
3 dias, 4 visitas, 28 telefonemas e 3 xanax depois, o problema estava já resolvido sem que ninguém tenha conseguido perceber bem como.
[o call center] – Boa tarde, Dona Laura (*arrepio profundo e esgar de irritação*), fala Miguel, da Tv cabo (*já é a quinta vez que falamos em 2 dias, aparentemente somos chegados*), é só para confirmar a informação que nos foi dada pelo seu marido. [Ela] – Quem? [o call center] – O senhor que nos atendeu e informou que os problemas estavam resolvidos, a senhora não foi avisada? [Ela] - Mas eu não … [o call center] – Fomos atendidos por um senhor que se identificou como vivendo nesta morada e confirmou a resolução do problema. Aliás, o senhor disse mesmo que tinha tido origem num curto circuito causado por um pequeno acidente doméstico causado com um brinquedo de um dos vossos filhos. [Ela] – Filhos? Mas…(?) [o call center] - Er…não se zangue, ele se calhar não lhe contou para não a maçar com as crianças. [Ela] – Mas… [o call center] – Pelo menos tem o assunto resolvido! [Ela] – Pois (*exausta, decide desistir de remar contra a maré*). [o call center] – Então boa tarde e disponha sempre. [Ela] - boa tarde…
Não que isto interesse, mas a minha última semana de férias foi miserável. Regressada de Londres — sem antevisão possível para a retoma financeira depois do rombo que a Libra causou — uns simpáticos vírus resolveram instalar-se e atirar-me para 4 dias de febre, sofá, programas televisivos para reformados e a quase vã tentativa de avançar na pilha de livros. Os dias, lá fora, gloriosos e coloniais. E a enferma delirante e mal-humorada chorava saudosa do Inverno, época muito mais adequada a qualquer tipo de maleitas. Quem pode evitar esboçar um sorriso amparado ante a ideia de buscar no edredão de penas e no chá a ferver o conforto dos dias engripados quando a chuva e o vento fustigam os transeuntes a quem acenamos mentalmente, não sem alguma ironia sobranceira, ainda que no auge da sucessão de espirros?Desta vez nenhum desses confortos infantis como a justificada permanência em casa em dia de trabalho ou a temperatura glaciar lá fora. Desta vez a janela mostrava trocista um céu azul envaidecido, gentes com roupas frescas e uma webcam num site da especialidade exibia despudoradamente a praia do Guincho sem vento. Desta vez o Verão de Agosto durou 4 dias. Os mesmos que a bula do medicamento prescrevia para a recuperação.
E como as pessoas, às vezes, se parecem com os ramos de direito: as muito interessantes (porque complexas) mas quase impraticáveis numa base diária, as relativamente simples mas enfadonhas, as obscuras — quase inexpugnáveis— só acessíveis a praticantes experimentados e ardilosos, aquelas de quem se gosta muito por motivos lúdicos mas com quem não se quer mais do que uma relação pontual e difusa e, finalmente, as que escolhemos para todos os dias com tanto de entusiasmantes como de rotineiras, que nos estimulam ao mesmo tempo que nos exasperam entre a novidade e o enfado, que nos plantam um sorriso vitorioso mas não deixam (nunca) de nos ameaçar com antevisão da derrota nos pequenos percalços da convivência quotidiana.
Nada contra aqueles que instrumentalizam coisas ou pessoas visando determinado objectivo. Afinal, a obstinação e a capacidade para planear, eficazmente, a médio ou longo prazo, são indícios claros de destreza de espírito e vontade férrea. Todavia, aquilo que distingue um diplomata de um bárbaro a quem se tenha dado uns cadernos militares é o facto de, no primeiro, o pudor actuar sempre sobre a estratégia (dissolvendo-a e mitigando os seus efeitos e consequências aos olhos mais sensíveis). O mundo admira os destemidos ou bravateiros por pouco mais de 15 minutos mas é capaz de respeitar (com temor distanciado) os ardilosos durante uma vida inteira.
“(...) Além disso, esta última parecia tão estúpida como bela. Embora recém-chegada, era habitualmente convidada para certos serões por causa dos seus faustosos vestidos e do penteado mais próprio para uma exibição. Convidavam-na como um adorno, à maneira de um quadro, de um vaso, de uma estátua e de um abafo que se pede aos amigos para uma reunião nocturna.(...)”
“—Tive a honra de o explicar no último serão, vou repeti-lo para Vossa Excelência. Queira ter em consideração que toda a gente tem espírito e eu não tenho. Para me compensar, consegui licença para dizer a verdade. Todos sabem, com efeito, que só os pobres de espírito dizem a verdade. Alem disso, sou muito vingativo, tudo por causa da minha falta de espírito. Suporto com humildade todas as ofensas, enquanto o ofensor não resvala na adversidade, mas ao primeiro sinal da sua desgraça, recordo a afronta que me fez, vingo-me, escoucinho, como disse um dia de mim Ivan Petrovitch Ptitsyne, o qual, com certeza, nunca atirou coices a ninguém. (...)”
Um post bastante longo e que, ponderados os prós e os contras, se calhar nem vale a pena ler.
[A melhor versão conhecida de Summertime, mais nossa do que todas as outras, roubada daqui]
A gerência tem recebido alguns e-mails de leitores mais fiéis que se queixam de estar francamente enjoados de ver (os mesmos) sapatos cada vez que abrem esta página. Imunes que somos aos lamentos corporizados pela vox pupuli não podemos, contudo, deixar de regressar, com manifesto e rasgado agrado, à comunidade bloguística depois de prolongada ausência por lesão (não é verdade, mas soa bem). Nestas semanas não deixámos de acompanhar com atenção os acontecimentos do momento e confessamos mesmo ter alguma inveja dos que tiveram oportunidade de escrever sobre Gualter* (a nova estrela do panorama político nacional) ou outros assuntos igualmente apaixonantes como o falecimento do Barão Stefan von Breisky. Para desgosto do meu querido Tiago, também eu não me pronunciarei sobre a morte recente de EPC (nem lá, nem aqui) e por uma razão muito simples: porque acho que se deve respeitar os mortos (e os que ficam e lhe são próximos) o que implica que, quando não se tenha nada de bom (e , in casu, nem sequer de realmente mau) a dizer sobre o falecido, mais vale estar calado do que perder o tempo de quem escreve e lê, vomitando umas banalidades para o papel para cumprir calendário. No que respeita à blogosfera não posso deixar de destacar o meu blogger preferido desta época balnear, o correctíssimo Diogo, que fez (com a ironia inteligente que lhe conhecemos) o 31 da Armada, enquanto grande parte de nós abandonou vilmente a casa para ir a banhos. Ainda no cumprimento da minha lista de recados, uma palavra a estas duasmeninas, para dizer que Londres é a capital do mundo ocidental com pior sapato de que há memória. [Oito dias, dezassete livros, dois vestidos, um casaco, chás de todas as espécies, produtos de cosmética variada (e estupidamente cara), prendas para vários gostos e feitios e nem um (reparem, nem um) par de sapatos]. E, sobre as férias, mais se dirá no correr dos dias próximos, sobre uma Londres chuvosa com tanto de sombria como de glamorosa e um regresso com excesso de bagagem para encontrar uma amigdalite que nos levou à cama e um drama quase conjugal com a caprichosa TV Cabo. E, por falar em multimédia, seremos nós os únicos a sentir-nos traídos pela FNAC do Chiado — uma espécie de “mercearia global para assuntos culturais”— que aproveitou a ausência para férias do grosso da clientela habitual para mudar tudo e transformar aquilo que era um espaço organizado e user friendly num gigantesco molho de brócolos onde só por bênção aleatória da fortuna se consegue encontrar o cd/livro/dvd pretendido e apenas com recurso à coacção física (ou violento bater de pestanas) se logra finalmente ouvir um cd? *Para que fique claro, o facto de alguém apresentar-se pública e repetidamente com aquele penteado, relega, à partida, um ser humano para a categoria de “não-assunto” pelo que nos absteremos de tecer qualquer comentário adicional sobre a questão de fundo até que o cidadão dê provas de ter frequentado um bom barbeiro.