Ontem à noite, mais para combater a inércia do que por real admiração pelo trabalho da artista em causa, juntámos um agradável grupo de quatro pessoas para assistir, no Casino (do) Estoril, ao concerto da Mafalda Veiga. Ao que percebi último de uma série de concertos gratuitos organizados por aquela instituição(!)...
O concerto foi aquilo que se podia esperar dele, morno, às vezes morto, mas com momentos de rara beleza, mais pelas letras do que pela voz ou pela melodia, e sobretudo o retorno a outros tempos na simplicidade com que hoje olhamos ao longe os problemas complicados da adolescência.
Contudo, à parte da música, realmente marcante foi a verificação de que este tipo de acontecimentos é um enorme filão de material para estudo sociológico. A sério que gostava de ter o poder de transformar algumas daquelas pessoas em imans para frigoríco, para poder olhar para elas todos os dias de manhã, e ter um pós despertar um bocadinho mais animado.
Não só havia de tudo num infindável catálogo de humanidade absolutamente deprimente, como era essa mesma humanidade dotada de uma total ausência de noção do espaço e da circunstância.
Não pode haver espectáculos gratuitos sem qualquer outro critério para permissão de entradas... Momentos houve em que a voz da artista ela largamente sobreposta pelo burburinho das conversações sobre a bola, o supermercado, o liceu e o casamento da vizinha.
Espero, ao menos, que o Sr. Hoo tenha podido deduzir aquilo nos impostos...
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“…Não só havia de tudo num infindável catálogo de humanidade absolutamente deprimente, como era essa mesma humanidade dotada de uma total ausência de noção do espaço e da circunstância.” Sociologicamente é exactamente assim: ou seja, aquilo que Ortega y Gasset define como o indivíduo nunca é só ele….é ele e a sua circunstância..
Posted by Álvaro Lins | 7:13 da tarde